O que Bebianno sabe que agiliza sua saída ou o mantém no cargo? Para muitos, ele sabe de segredos da campanha presidencial de 2018, cuja divulgação seria um misto concentrado de Mensalão com Petrolão. Mas pode ser muito bem que tenha descumprido acordos de informar e regular a gestão de recursos do fundo partidário estatal em nome do presidente, para evitar justamente a situação do “laranjal”. Isso pode ser tão “abobrinha” quanto ter imaginado, há um ano atrás, que seria eleito para tomar praça do Palácio do Planalto. Ou dizer que o segundo turno não seria PT x PSDB.
Ao bater o martelo pela saída de Gustavo Bebianno, o presidente deixou claro a sua adesão à ala política dos filhos. É um engano tratar os filhos do presidente como parentes a se meter nos negócios do pai ou, pior, nos assuntos do Poder Executivo só porque o pai é o chefe dele. Os “recrutas” compõem uma das alas mais estruturantes do bolsonarismo, que é a associação à Internacional Populista alt-right (The Movement, de Steve Bannon) e são novíssimos e impactantes players da nova cena política brasileira e latino-americana. Quiçá, a massa que dá suporte ao presidente nas redes sociais seja patrimônio desta ala.
O grosso dos votos que elegeram os deputados, senadores e governadores do PSL (e muitos outros para tais cargos dentro de diversos partidos, como o PSDB e o DEM). Antiglobalismo, anti-marxismo cultural mundial, nova governabilidade (bancadas transversais e frentes temáticas), antiestablishment, conservadorismo nos costumes, anarco-capitalismo, anticorrupção, comunicação direta são alguns termos-chave para entender. É esta ala que navega nos mares do divórcio entre o establishment e a sociedade.
A ameaça da vez à Reforma da Previdência é a crise envolvendo Bebianno, um querido do sistema político tradicional, do Jogo de Brasília e das articulações com as cortes superiores, que dariam sinal verde para o liberalismo econômico e vermelho para a agenda de costumes e da lei e da ordem. A turma do deixa disso trabalha para enquadrar Bolsonaro no padrão Lula 01, à direita, o que esterilizaria o projeto consagrado no comandante-em-chefe. O que não se diz é que, aparentemente, a melhor forma de garantir as mudanças previdenciárias é Bolsonaro ser o que é.
Se agitar a agenda dos costumes e da lei e da ordem – que não precisam ser aprovadas, apenas ministradas – e ceder a subsídios da agricultura (não precisa de outros ramos), as frentes temáticas e bancadas transversais ideologicamente convergentes com o governo poderão contemplar suas bases e aceitar, por isso, desgastes com assuntos tidos e havidos como impopulares. É o caso de aprovar a Previdência. No mais, trocar a distribuição de dividendos políticos e institucionais a chefes partidários, que controlam os repasses de tais benefícios a seus liderados, por fazê-lo por temas e seus líderes orgânicos gera mais coesão programática, estruturante, do que o infindável ciclo (e risco) de “toma lá, dá cá” à moda antiga. É o atalho mais dinâmico para implementar a agenda econômica, permitir aos militares terem a chance de provar seu valor no regime civil e colocar a renovação das duas casas em marcha ordenada para aprofundar a Lava Jato, em consonância com as respetivas redes.
“Bolsonaro x everybody” funcionou na campanha e pode funcionar agora.
No suposto pronunciamento em cadeia nacional que o capitão dará na quarta-feira, anunciando a Reforma, marca um gol se focar nos privilégios, em como sem ela a segurança pública fica comprometida e não se deve permitir que os políticos imponham o padrão Nova República para votar em algo que eles próprios verbalizam como imprescindível para o País.