Fraude em votação no plenário do Senado costuma dar encrenca. Renan Calheiros sabe bem disso. Em 2001, ele e Jader Barbalho se empenharam para que o Senado investigasse a denúncia de que o então todo poderoso Antônio Carlos Magalhães mandara fraudar o painel eletrônico na votação que cassou o mandato do senador Luiz Estevão. A apuração de uma sindicância comprovou que ACM, em parceria com José Roberto Arruda, ordenou a fraude. Ambos tiveram que renunciar para não serem cassados. O pano de fundo ali era o turno final de uma acirrada disputa pelo comando do Senado.
Está em curso agora mais um turno da tumultuada disputa pela presidência do Senado. Como em 2011, quando Jader se elegeu presidente do Senado, mas não cessou a guerra com ACM, Davi Alcolumbre parece convencido que há indícios suficientes para que uma investigação comprove que o grupo de seu adversário Renan Calheiros tentou fraudar a eleição. Daí a determinação ao corregedor Roberto Rocha para ir fundo na apuração. “São centenas de horas de inúmeras câmeras da TV Senado filmando aquele sábado”, diz Roberto Rocha, animado com a perspectiva de identificar o fraudador.
Antes mesmo do pente fino, foram identificadas imagens que deixam mal senadores com protagonismo na votação. Em uma delas, num momento crucial, o senador petista Jean Paul Prates, suplente da governadora Fátima Bezerra, aparece com uma desenvoltura surpreendente para quem estava estreando no Senado. É ele quem aconselha, em tom de ordem, o veterano José Maranhão, presidente da sessão: “Destrói as cédulas rápido para ninguém ver o voto”. Maranhão obedeceu e rasgou as duas cédulas que teriam sido fraudadas. De nada adiantou. Um cinegrafista da Globo foi mais rápido e flagrou que os dois votos foram para Renan.
Maranhão e Jean Paul estavam no time de Renan. Embora tivesse apoios ostensivos e enrustidos em outros partidos, MDB e PT formavam a tropa de choque de Renan, com a escrachada ajuda de Kátia Abreu, hoje no PDT. Nos embates em plenário, Eduardo Braga, líder do MDB, foi um dos comandantes nas batalhas. Foi contra o voto em cédula e surpreendeu com a defesa enfática da anulação da votação com um voto a mais e as duas cédulas fora do envelope.
Eduardo Braga jogava em sintonia fina com Renan. Daí a estranheza com a entrevista de Renan, depois de ter jogado a toalha, com a versão de que se os votos da primeira votação tivessem sido apurados seria ele o vitorioso. Para os adversários de Renan, a contradição reforça a suspeita sobre a autoria da fraude. Eles esperam ter provas que a comprovem em breve.
Senadores aliados de Renan dizem que cravar seu nome nas tais cédulas teria sido uma artimanha de seus adversários. De acordo com um senador ligado a Renan, que me pediu para não ser identificado, uma apuração paralela à da Corregedoria do Senado teria constatado que a fraude foi cometida por um senador novato ligado a Davi Alcolumbre. Segundo ele, as provas vão aparecer nos próximos dias, e podem ser acompanhada de uma denúncia ao Conselho de Ética
Se nenhum acordão por baixo dos panos brecar os ânimos, a temperatura no Senado pode subir nos próximos dias.
A conferir.