Ao revelar o convite do presidente Jair Bolsonaro para uma conversa na próxima quarta-feira, Renan Calheiros avaliou ter ultrapassado mais um obstáculo em sua corrida para chegar pela quarta vez à presidência do Senado. Talvez o mais relevante depois que venceu, como era previsível, por apertados 7 a 5 ( e a notada ausência de Jarbas Vasconcelos), a disputa interna no MDB com a colega Simone Tebet.
Com a agilidade habitual, a assessoria de Renan divulgou o telefonema de Bolsonaro, ganhou registro exclusivo no Jornal Nacional, e obrigou o time político do governo a correr atrás do prejuízo com os demais postulantes à presidência do Senado. Um a um todos eles receberam um protocolar desejo de boa sorte de Bolsonaro, que teve de falar mais do que o recomendado por seus médicos. Além disso, em dois tuítes, Bolsonaro insistiu na versão de que estava sendo apenas diplomático com todos os candidatos em que “o eleito será importantíssimo para a democracia e o futuro do Brasil”
O recibo mais curioso foi o do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Também pelo Twitter, ele disse que, em respeito à instituição, Bolsonaro telefonou para todos os candidatos à presidência do Senado. “O JN falou que foi só pro Renan. Fala a verdade @jornalnacional”. Algo patético, mas o ministro Onyx tem um motivo especial para chiar.
Sua estratégia para fazer o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) principal adversário de Renan Calheiros no bate-chapa hoje no plenário do Senado pode dá certo. Por dois motivos. O primeiro é que o senador Davi ganhou musculatura entre os colegas com a ajuda palaciana, bancada pela turma de Onyx. Até por isso — e a derrota de Simone Tebet na bancada do MDB — ele se tornou a opção mais competitiva para enfrentar Renan. Essa pelo menos era a avaliação entre as tropas anti-Renan na madrugada dessa sexta-feira.
Um pouco antes, na noite da quinta-feira, alguns dos principais postulantes — Tasso Jereissati, Esperidião Amin, Álvaro Dias e Major Olímpio — reuniram-se na casa de Simone Tebet para traçar uma estratégia para a batalha contra a turma de Renan nessa sexta-feira. Primeiro ali se descartou como melhor alternativa a tática de dispersão de votos em vários candidatos. Nenhum deles chegaria com tamanho suficiente para enfrentar Renan num eventual segundo turno.
O problema é como enxugar as candidaturas, sendo que para algumas delas Renan é a segunda opção. É o caso, por exemplo, do PP de Esperidião de Amin. Dos seis senadores do partido, que ele contabiliza como votos nele, quatro poderiam debandar para Renan se ele sair do páreo no primeiro turno. Álvaro Dias ainda depende da bancada. Os quatro votos do PSL do Major Olímpio iriam sem problemas para Davi. Como sempre, os tucanos motivam dúvidas.
Pela avaliação atribuída a Tasso Jereissati, os oito senadores do PSDB estão fechados para votar em qualquer candidato contra Renan Calheiros, inclusive José Serra que fez boas tabelinhas legislativas com Renan nos últimos anos. Mas isso não significa que Tasso, que tem outros apoios declarados, como os senadores Cid Gomes (PDT) e Jarbas Vasconcelos, esteja disposto a sair do páreo. Nova reunião marcada para um pouco antes da abertura da sessão do Senado vai de novo buscar um consenso nas forças anti-Renan.
O afunilamento das candidaturas é um dos flancos da batalha. Outro é se Davi Acolumbre, sendo candidato, pode ou não presidir a sessão eleitoral. Pela manhã, se não houver contratempo, ele deve presidir a sessão de posse dos novos senadores. Os partidários de Renan vão defender que a sessão seja presidida por José Maranhão, o senador mais velho, com seus 85 anos de idade. A importância disso é que caberá a quem estiver na presidência decidir se coloca ou não em votação se a eleição deve ser por voto aberto ou secreto.
O voto secreto, além de previsto no Regimento Interno do Senado, faz parte da tradição. Esses serão os principais argumentos da turma de Renan para que não haja uma mudança de regras. Seus adversários, porém, vão recorrer à polêmica interpretação do próprio Renan para atropelar a legislação, o regimento e o escambau e atribuir à soberania do plenário a decisão de manter os direitos políticos de Dilma Rousseff, mesmo depois do impeachment.
Se for a votos, vai prevalecer quem tiver maioria. Mas, com tantos imbróglios, a sessão do Senado é imperdível.
Vale conferir na TV Senado.