Nem mesmo a própria oposição poderia imaginar que, em um mês de governo, conseguiria arrumar um discurso contra o novo governo. Quanto mais os dois ou três que já ganhou. O episódio Coaf/Flávio Bolsonaro arranha seriamente a narrativa do combate à corrupção que funcionou como um dos pilares da eleição de Jair Bolsonaro. Se confirmado, o envolvimento do ex-assessor Fabrício Queiroz e de Flavio com milicianos do Rio também provocará grande estrago na credibilidade do governo no combate ao crime organizado.
Além de ceifar vidas inocentes e abalar a economia de Minas e do país, a tragédia de Brumadinho, na última sexta-feira, atinge também em cheio o discurso privatista e antiambientalista do governo. Não por acaso, pipocaram no fim de semana, nas redes, sugestões de reestatização da Vale do Rio Doce e protestos contra as privatizações de estatais. É mais do que óbvio que a Vale não será reestatizada, mas é razoável supor que o movimento contra a privatização de outras empresas vai engrossar.
Da mesma forma, o governo terá muito mais dificuldades com sua agenda antiambientalista de simplificar licenças ambientais e etc. Bolsonaro teve sorte quando desistiu de extinguir o Ministério do Meio Ambiente e até quando, em Davos, concedeu que “por ora”, o Brasil não deixará o Tratado de Paris. Já pensou se o tivesse feito?
É previsível que, depois de Brumadinho, se fortaleçam movimentos sociais e ambientais no debate público, que terá mais espaço com o início da nova legislatura no Congresso e a abertura do ano judiciário nos tribunais. Por outro lado, as investigações do caso Coaf/Flavio não devem parar. Ao contrário, podem tomar impulso com a decisão do ministro Marco Aurélio de devolvê-las à Justiça Federal do Rio, provavelmente já nesta sexta.
Perdida entre bate-cabeças e cotoveladas domésticas desde a derrota nas eleições de outubro passado, a oposição já tem uma agenda consistente em que trabalhar e, se for competente, poderá começar a mobilizar suas forças e a própria sociedade. Aí é que está: se for competente…