Renan Calheiros faz o jogo de sempre. Sem assumir ser candidato à presidência do Senado, ele atua intensamente nos bastidores: aos colegas de MDB conta ter votos de colegas de outros partidos para uma eleição sem risco; aos de fora, diz ter o apoio da maioria de sua bancada. Foi assim que conseguiu, apesar de vários pretendentes, manter até agora a disputa em banho maria.
Só que nesse quadro de indefinição, com a composição do Senado bem renovada, a eleição ficou aberta. Avaliava-se no Senado de que os variados candidatos apenas marcavam território enquanto não escolhiam um nome competitivo para enfrentar Renan. Por essa ótica, havia duas opções: um candidato do próprio MDB, mantendo a tradição da indicação pela maior bancada, ou alguém que conseguisse uma ampla costura entre os outros partidos.
Nos últimos dias, a situação começou a mudar. Simone Tebet, líder do MDB, que parecia uma reserva de luxo do partido caso Renan não se viabilizasse, resolveu entrar no jogo. Ela não se lançou contra Renan. Simone justificou sua entrada no páreo como uma reação a uma articulação que estaria sendo feita pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, em favor da candidatura o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). Por ser o único membro da atual Mesa do Senado com mandato, Alcolumbre deve presidir a eleição do futuro presidente. Se o fizer, caberá a ele por ou não em votação um requerimento para que a eleição seja com voto aberto.
De acordo com Simone, a torcida do Onyx e do DEM é de que Renan seja o candidato do MDB porque, mesmo com voto secreto, a avaliação deles é que podem derrotá-lo. “Qual foi o grande recado que chegou para a líder e para a bancada. Nós não queremos o Renan. O Renan não serve para o governo. Isso foi dito lá atrás. Agora, se o MDB optar por outra candidatura, por que preterir o MDB a favor do DEM?”.
O Major Olímpio, pré-candidato do PSL de Bolsonaro à presidência do Senado, endossou as críticas de Simone Tebet a atuação do ministro Onyx que estaria ocorrendo à revelia do presidente da República. “Causa desconforto, isso atrapalha o governo”. Ele admite abrir mão de sua candidatura para apoiar Simone ou outro nome que possa derrotar Renan.
A pretexto dessa articulação do DEM, Simone trocou suas cartas no jogo. Ela se apresentava apenas como uma opção para a bancada do MDB, caso Renan não conseguisse o apoio da maioria dos senadores, com o propósito de manter o comando do Senado com o partido. Agora, já avalia que pode disputar com Renan na bancada ou se lançar candidata diretamente em plenário para, segundo ela, evitar o risco do MDB perder a presidência do Senado para um oponente de outro partido.
A conferir.