Eles começaram a trocar olhares em 2017, quando Jair Bolsonaro, na opinião da maioria dos analistas políticos, não tinha qualquer chance de chegar ao Palácio do Planalto. Era um “namoro hétero”, como definiu o hoje presidente da República. Deu em casamento, e Bolsonaro aproveitou a cerimônia de posse dos presidentes de bancos públicos (Bndes, Banco do Brasil e Caixa) para renovar os votos.
Depois da atribulada sexta-feira passada, quando o presidente teve de ser desmentido por assessores, ao tratar de temas da seara de Guedes, como aumento de impostos e reforma da Previdência, Bolsonaro quis mostrar que ele e seu ministro da Economia têm uma sólida aliança. Mas que cada um tem um papel nessa união – mesmo que ele tenha “invadido” o terreno alheio: “Eu entendo um pouquinho mais de política do que ele, mas ele entende muito, mas muito mais de economia do que eu”, discursou o presidente.
Guedes, em uma série de artigos para o jornal O Globo, intuiu que a direita teria uma brecha eleitoral para chegar ao poder. E citou Bolsonaro. Em novembro de 2017, eles se encontraram num hotel na Barra da Tijuca, por iniciativa do então candidato, que estava em campanha havia quatro anos, mas só era levado a sério por grupos de apoiadores reunidos via WhatsApp pelo filho Carlos.
Desde o início, ambos entoaram o mantra repetido na solenidade de hoje: Bolsonaro não entendia de economia, e Guedes não sabia nada de política. Cada um no seu quadrado. Enquanto estavam em campanha, parecia perfeito. Bolsonaro, porém, chegou lá. Agora, mesmo que diga o contrário, não pode mais assumir sua ignorância em economia. Guedes virou o “Posto Ipiranga”, uma peça vital para o sucesso do político. Mas não pode, tampouco, ignorar que o comando é do capitão, um ex-deputado com 28 anos de experiência no Parlamento. A história mostra, afinal, que uma medida econômica é sempre uma decisão política.