Salvo engano, o capitão-mor Jair Bolsonaro tem pouca experiência em negociações e conflitos políticos. Em seus 27 anos de vida parlamentar manteve-se como deputado folclórico, apartado dos conchavos e acordos intrínsecos à vida político-partidária.
Se quiser sobreviver nesta planície espinhosa, deverá aprender a jogar ou procurar o aconselhamento de gente experiente e disposta a ajudá-lo. O presidente Michel Temer, por exemplo. Não sobre o que fazer, mas como fazer.
Simultaneamente, seria oportuno enquadrar seus filhos. A primeira medida seria a de proibir os pimpolhos de se manifestarem sobre temas polêmicos sem a concordância paterna.
Contato direto
Desencontros num governo em formação são normais. Ainda mais quando este governo surgiu de forma inopinada.
Bolsonaro se preparou para vencer as eleições, não para governar. Sem saber como agir com os partidos, a impressão que se tem até aqui é que ele tem receio do envolvimento direto com o Parlamento.
Venceu o pleito com um discurso monocórdico com seus milhões de seguidores na internet. Num processo quase sem diálogo e sem contestação.
Esta receita não funciona com o Legislativo e sua miríada partidária. Nesta seara, onde há 594 interlocutores – poucos, mas poderosos -, Bolsonaro parece estar tateando.
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Primeiro. Apenas na semana passada, o presidente começou a buscar contato direto com as bancadas.
Segundo. Bolsonaro não tem um nome de peso para a interlocução com os partidos.
Terceiro. Deixa que seus filhos, inexperientes (quem ouviu falar deles antes das eleições?), assumam a intermediação do futuro governo com o Congresso Nacional.
Teleguiados
Se sua intenção é governar com a força do povo, que seria teleguiado por meio das redes sociais, estaremos adentrando num cenário inédito. Haveria uma tendência de conflito institucional.
Se não for esta a intenção bolsonariana, talvez seja oportuno ouvir quem tem experiência e não é adversário. Temer já se mostrou disposto a ajudar.
Diante de inúmeras idas e vindas em torno da principal bandeira econômica do futuro governo, a reforma da previdência, é preciso definir uma estratégia e mostrar convicção do que pretende.
“Salvo engano,
o capitão-mor Jair Bolsonaro
tem pouca experiência
em negociações e conflitos políticos.”
Até aqui, mesmo os que são favoráveis a reformar as aposentadorias não saberiam dizer se apoiam a iniciativa do novo mandatário. Simplesmente porque ninguém sabe o que ele propõe. Provavelmente, nem mesmo o capitão-mor.
Num encontro com jornalistas estrangeiros, Temer repetiu o conselho. “Eu sugiro que se possa aprovar a nossa proposta [para a previdência]”, reiterou o atual presidente.
“Já está prevista lá [a idade mínima para se aposentar], seria muito útil. Tem a vantagem de já ter tramitando. Seria só aprovar na Câmara e no Senado, em dois turnos”, defendeu.
Lua de mel
Não se trata de uma dica qualquer. Temer aprovou uma controversa reforma trabalhista e o inusitado teto de gastos.
Além disso, safou-se de dois processos que poderiam afastá-lo da Presidência. Só não conseguiu aprovar a reforma da previdência (1) por conta de suas relações com o magarefe Joesley Batista e (2) pela ação do sindicalista Rodrigo Janot, autor de um generosíssimo acordo de delação premiada.
Aprovar a reforma previdenciária em pouco tempo atrairá investimentos, dará impulso à economia e acalmará empresários desconfiados. É o tempo de que o eleito precisa para que o sufeta de Curitiba, Sergio Moro, comece a apresentar resultados – enjaular meliantes do erário e reduzir a criminalidade.
Se, ao contrário, persistir dando ouvidos aos rebentos e confiando a interlocução política a atrabiliários, como Onyx Lorenzoni, perderá aquele período de lua de mel a que mandatários eleitos têm direito. Aí, talvez seja tarde para chamar Temer, que poderá estar às voltas com a polícia.