Pegaram mal junto ao mercado, a setores empresariais e a investidores as afirmações do futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoini, de que o novo governo “tem tempo” para fazer a reforma da Previdência, que não será aprovada de afogadilho, etc e tal. Juntando essa narrativa à do próprio Bolsonaro, que tem dito que não vai “salvar o Brasil matando idoso”, acendeu-se a luz vermelha.
Afinal, a reforma da Previdência, supostamente liderada por Paulo Guedes, era uma das principais razões pelas quais esse pessoal apoiou e votou em Bolsonaro, sobretudo na reta final da eleição. Cansamos de ouvir integrantes da turma do mercado dizerem que o PT não faria reforma nenhuma, e que a pátria estaria salva com a vitória do capitão e seu posto Ipiranga. E foi essa conversa que levou muita gente da elite que, em outros tempos, não chegaria perto de Bolsonaro, a apoiá-lo.
A esta altura, porém, e ainda antes de o governo assumir, há uma grande apreensão em relação ao assunto. O primeiro requisito para aprovar a reforma da Previdência é querer aprovar a Reforma da Previdência e as afirmações de Bolsonaro e Onyx dão margem a dúvidas neste sentido. Mais ainda porque Guedes, adoentado, não veio a Brasília esta semana para apagar o incêndio.
Todo mundo sabe que reforma radical da Previdência nunca houve nem haverá. Esse é o tipo do assunto que anda aos poucos, cada governo fazendo um pedaço e avançando como pode, como vem ocorrendo desde Fernando Henrique e Lula.
Mas se quisesse mesmo, de verdade, levar adiante essa reforma, o governo Bolsonaro teria adotado a PEC de Michel Temer, que já está tramitando e, embora não seja bom aos olhos dos economistas ortodoxos, representa algum avanço simplesmente pelo fato de estabelecer uma idade mínima para aposentadoria.
Aprová-lo este ano era missão impossível, mas ele pode ser transferido no mesmo ponto de tramitação para a próxima legislatura, ganhando-se todo o tempo que uma nova proposta terá que perder nas comissões da Câmara. Pelos cálculos de especialistas, a decisão de Bolsonaro e Onyx de recomeçar da estaca zero a discussão da Previdência, com a apresentação de um novo projeto, atrasará em pelo menos seis meses uma votação que poderia ocorrer ainda no primeiro semestre de 2019.
O mercado tem lá suas razões para estar preocupado, e os aposentados, para comemorar. Brasília começa a ter a sensação de que a reforma da Previdência não sai tão cedo.