O general Carlos Alberto dos Santos Cruz é um valoroso militar, que mostrou sua capacidade em missões espinhosas como a chefia das Forças de Paz da ONU no Haiti e no Congo. Mas é ainda um mistério o que fará à frente da Secretaria de Governo da Presidência da República, cargo para o qual foi anunciado hoje pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Certamente, para fazer política é que não é.
Santos Cruz tem pouco, pouquíssimo em comum com seus antecessores no posto: Carlos Marun, Antonio Imbassahy, Geddel Vieira Lima e Ricardo Berzoini, todos políticos, encarregados da relação com o Congresso. Até hoje, esse posto, criado no segundo governo Dilma com a fusão das pastas das Relações Institucionais e da antiga Secretaria Geral, sempre foi eminentemente político e evidentemente terá novo perfil.
De concreto, tem-se de pronto algumas constatações:
1. A militarização: a nomeação de Santos Cruz reforça o time dos militares no voleizinho da hora do almoço no Planalto: agora, serão três a cercar o presidente da República (Santos Cruz, o general Heleno e o vice Hamilton Mourão) na rotina palaciana, contra dois civis no primeiro escalão (Onyx Lorenzoni, na Casa Civil, e Gustavo Bebianno, na Secretaria Geral).
2. Encolhimento da política: na prática, a articulação política ficará concentrada nas mãos de Onyx, o que denota uma inquietante falta de preocupação presidencial com o assunto. A turma do Congresso, que conhece o futuro ministro, acha que ele não dará conta do recado sozinho. Tem lá suas arestas na Câmara e pouquíssima interlocução no Senado. Quem vai conversar com essa gente?
3. Bate cabeças administrativo: evidentemente, Santos Cruz terá atribuições de gestão, possivelmente na supervisão de ações e programas governamentais. Só que quem já anunciou que fará isso é o vice Hamilton Mourão. Se contar com aquela parte da gestão que, legalmente, cabe à Casa Civil. E sem mencionar que, à frente do GSI, o general Heleno terá enorme influência sobre cada ato do presidente…