Desde a campanha eleitoral, havia dois tons distintos nos sempre belicosos posts de Jair Bolsonaro nas redes sociais. Os de sua própria autoria eram bem menos agressivos que os escritos pelo filho Carlos Bolsonaro. Depois das eleições, Jair Bolsonaro baixou a bola num visível esforço para medir as próprias palavras. Carlos se manteve na mesma toada.
Ágil no Twitter, Carlos parece um fio desencapado na montagem da equipe para o futuro governo. Não briga apenas com adversários, mas também atropela e às vezes detona os próprios aliados. Nessa quarta-feira (21), a metralhadora giratória de Carlos atirou para todos os lados. Depois que alguns sites da grande imprensa anunciaram a escolha do professor Mozart Neves Ramos para o Ministério da Educação, disparou um tuíte classificando a notícia de fake news: “Claro como água. A estratégia de toda a mídia é se unir e não medir esforços para divulgar fake news, tentando saber até aonde têm poder e até ondem podem desgastar Bolsonaro”, escreveu.
Deputados evangélicos pegaram corda e protestaram contra a opção por Mozart Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna e reconhecido especialista em Educação. Diante da reação, Jair Bolsonaro postou em seu Twittter que não havia nada decidido. O que parecia um golaço do futuro governo pode ser anulado.
Em sua primeira entrevista após ser confirmado ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência na gestão Bolsonaro, Gustavo Bebbiano incluiu a Secretaria de Comunicação (Secom) entre os órgãos que vai comandar. “A Secom será tratada com Carlos Bolsonaro. Ele sempre esteve à frente da comunicação e é uma pessoa muito importante para a equipe e o presidente”.
Carlos, que já teve outras pinimbas com Bebbiano, não gostou. “Nada disso será tratado comigo. Boa tarde!”, descartou em seu Twitter. A dúvida é se a reação foi motivada por não estar em seus planos ser subordinado de Bebbiano. Mais uma vez, Jair Bolsonaro entrou no circuito para apoiar o filho.
Em entrevista ao O Antagonista, Bolsonaro disse que estava avaliando a indicação de Carlos para chefiar a Secom com status de Ministério, mesmo sabendo que isso poderia gerar críticas e desgastes por nomear o próprio filho. “Tem tudo para dar certo. Ele é uma fera nas mídias sociais, tem sangue na boca, é meu pit bull”. Segundo Bolsonaro, a decisão é do próprio Carlos, que “está avaliando os prós e os contra”.
Além do desgaste político, uma eventual nomeação do filho como ministro pode ser barrada no Supremo Tribunal Federal. Está em vigor a Súmula 13 do STF que proíbe o nepotismo. Por causa dela Michelle Bolsonaro foi demitida do gabinete de Bolsonaro na Câmara. Também foi com base nessa súmula que o ministro Marco Aurélio Mello suspendeu a nomeação de Marcelo Crivellla Filho como chefe da Casa Civil da prefeitura do Rio de Janeiro.
Mas no próprio Supremo há divergências sobre se a súmula sobre nepotismo se aplica a cargos de natureza política como ministros e secretários estaduais. Em outros casos, os ministros Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso fizeram interpretações sobre a aplicação da Súmula divergentes da do Ministro Marco Aurélio. Enfim, se Bolsonaro nomear o filho Carlos, certamente a palavra final será do STF.
Enquanto isso, sem nenhuma cerimônia, Carlos Bolsonaro continua dando palpites, anunciando vetos e até escolhas em áreas alheias. Foi ele quem anunciou a indicação do general Carlos Alberto Santa Cruz como Secretário Nacional de Segurança Pública, um dos principais órgãos sob o guarda chuva do ministro Sérgio Moro. O que se fala na equipe de transição é que Moro não gostou de ser baipassado pelo pimpolho do presidente.
A família Bolsonaro está vindo morar em Brasília. Além do casal presidencial e da menina Laura, os irmãos Flávio e Eduardo vão exercer seus mandatos no Senado e na Câmara dos Deputados. Carlos é vereador no Rio de Janeiro. Pode se licenciar do mandato e vir despachar no Palácio do Planalto ou continuar no Rio dando seus pitacos nas redes sociais. Qualquer que seja a opção, é provável que ele continue fazendo barulho.
A conferir.