Ney Suassuna se achava irmão camarada, parceiro de fé, de Renan Calheiros. Depois de seu envolvimento no escândalo dos Sanguessugas, em uma disputa apertada, ele não conseguiu se reeleger senador pela Paraíba, em 2006. Sem mandato, Suassuna imaginava usar o crédito acumulado ao longo dos anos para conquistar uma máquina de arrecadar dinheiro no segundo governo Lula. Como ele conhecia por dentro tudo o que o PMDB do Senado usufruia na administração pública e o que rendia cada um desses nacos, esperou o melhor momento para reivindicar nada menos que o filé mignon.
No final de maio de 2007, quando o jornalista Policarpo Junior revelou, na revista Veja, que um lobista da empreiteira Mendes Júnior pagava contas pessoais do senador Renan Calheiros, Suassuna viu aí uma oportunidade. Ele sabia do que se tratava. Deu um tempo para os desdobramentos do escândalo e, depois, veio a Brasília cobrar a conta de Renan e de outros colegas.
O que ele pediu para não criar mais embaraços para seus antigos colegas? A presidência da Petrobras Transportes S.A., a Transpetro– um filhote da Petrobras que, olhado de perto, é gigante. Empresa criada no governo Fernando Henrique, ganhou corpo com investimentos estratosféricos nos governos petistas. Isso em si poderia até ter sido bom. Fez parte do sonho de o Brasil virar um player no mercado mundial de petróleo.
A Transpetro, com seus 55 navios, é a maior empresa de transporte e logística do Brasil na área de combustível. Dona de gasodutos e oleodutos, é também a maior processadora de gás natural no país. Nos números, uma empresa para a gente se orgulhar. Mas no balanço oficial dos resultados da empresa em 2014, auditados, são contabilizados exatos R$ 256, 6 milhões de dinheiro desviado por uma quadrilha que comandava a empresa desde o começo do primeiro governo Lula.
Era esse o butim que atraía Ney Suassuna. Quando percebeu, em 2007, que Renan Calheiros estava acuado, ele fez ameaças e exigiu a presidência da Transpetro. Achou que tinha cacife para destronar o ex-senador Sérgio Machado do comando da empresa. Renan disse não. Suassuna saiu furioso de Brasília. Sem entender o que estava acontecendo. Desabafou com amigos e até com jornalistas.
Para todos que se beneficiaram da corrupção na Petrobras, o ex-diretor Paulo Roberto Costa, epicentro do escândalo, e Sérgio Machado eram considerados exemplares. Conseguiam agradar a todos os parceiros da roubalheira. Cada um tinha o seu próprio estilo para não deixar rastros. Ambos caíram.
Há tempos, assessores qualificados da presidência da Transpetro manifestavam estranheza com o comportamento de Sérgio Machado. Eles sempre participavam das reuniões de Machado com executivos de empresas que negociavam com a Transpetro — juram que nunca ouviram nada que sugerisse corrupção. Mas, havia encontros, geralmente com os donos das empresas, que Sérgio Machado fazia questão de conversar sozinho.
Em um dos diálogos explosivos que gravou, Sérgio Machado diz que só conversava sobre propina com os donos das empresas, jamais com os executivos. Por esses cuidados, sempre foi considerado um operador seguro por todos que se beneficiaram das falcatruas na Transpetro. Quem teve acesso a tudo o que Sérgio Machado disse e entregou em sua delação premiada, assegura: a casa caiu.