Não sabemos se o conservadorismo nos costumes cresceu ou se já estava ali, latente, irritado com o avanço de minorias como o movimento LGBT, e explodiu agora com um candidato à presidência que não tem inibição nem vergonha de dar voz a esses preconceitos. Havia sinais disso. O que ninguém esperava é que os ventos bolsonarianos soprassem também para cima das convicções democráticas do brasileiro. O dado mais assutador do Datafolha desta quinta não é o prenúncio de que Jair Bolsonaro vai ganhar a eleição, mas o de que 50% dos eleitores acreditam haver possibilidade de instalação de uma nova ditadura no país.
Na pesquisa anterior, de fevereiro de 2014, esse índice era de 39%. Evidentemente, a expectativa de que possa haver uma ditadura não é um desejo de que haja uma ditadura – mas é um preocupante sinal de que metade das pessoas admite, ou teme, que ela possa vir a existir. Para quem viveu aqueles tempos de trevas, algo assustador.
Também inquietante é o índice dos que consideram o saldo deixado pela ditadura positivo: 32%. A tortura continua sendo rejeitada por 80% da população, mas 21% acham que o Executivo deveria ter o poder de fechar o Congresso. Cresceu também, de de 22%para 33%, o número dos que consideram que o governo deva tero direito de proibir a existência se algum partido.
O resumo da ópera é que, 33 anos depois do fim da ditadura, identificamos uma estranha percepção de que as instituições da democracia talvez estejam perdendo a popularidade.