O desabafo de Cid Gomes contra o PT — um baque na combalida tropa de Fernando Haddad que foi bem explorado pela campanha de Bolsonaro — expôs o que rola nos bastidores de um disputado campeonato que acabou antes de seu final.
Aposentou, por exemplo, o ensaio petista de uma frente democrática com quem sempre espezinhou. Todos os partidos já trabalham com um cenário de Bolsonaro no poder, inclusive o PT. Os petistas que vinham mendigando apoios vão endurecer o discurso na expectativa do pós-eleições. Querem sair na frente como a força que vai liderar a oposição a Bolsonaro.
Tem gente especulando sobre Ciro 2022, Haddad 2022, Doria 2022, tudo espuma. O jogo político real começa em 2019, quando haverá uma ampla troca de peças no no xadrez em Brasília. São mudanças significativas. O MDB, por exemplo, perdeu o protagonismo exercido nas últimas décadas.
Os tucanos, com o bico encolhido, voltam com crise de identidade bem mais profunda do que a histórica indecisão sobre que lado descer do muro. Outros partidos com papel de destaque nos embates legislativo na última década estão igualmente sem rumo.
Para partidos players no jogo de poder Câmara e Senado são apenas mais dois tabuleiros. Eles têm campo aberto na sociedade. É nesse cenário que vai ser disputado o papel de quem vai personificar a oposição a Bolsonaro. Mais do que no bombástico discurso sobre a necessidade de um mea culpa do PT, Cid Gomes foi cirúrgico nessa terça-feira (16) ao declarar que “boa parte da companheirada já deu por perdido, e está pensando em ser hegemônico na oposição. Estão se lixando para o Haddad”.
É exatamente isso. A burocracia que comanda o PT e apoia Haddad a contragosto se prepara para se manter, sempre com o aval de Lula, como força hegemônica na oposição que será liderada pela esquerda a Bolsonaro.
Essa turma comemora o debacle dos tucanos, não acredita no potencial de Ciro Gomes de organizar uma frente de oposição, e se espelhando em Lula continua a se ver como única alternativa viável ao projeto conservador de Bolsonaro.
A conferir.