Lula e o PT estão colhendo o que plantaram. Optaram por um zigue zague, em que driblaram autocríticas para manter uma narrativa sob medida para devotos. Nessa toada, eles atropelaram aliados e adversários. Tudo sob as bençãos do próprio Lula.
Abriram assim um vácuo para ventos e ventanias de todos os lados. Até José Dirceu, condenado por corrupção em duas instâncias, se sentiu à vontade para meter sua colher na caldeira sobre o futuro imediato do país. Em entrevista ao jornal espanhol El País, ele afirmou que, mais do que vencer eleições, o importante para o PT é tomar o poder.
O que isso quer dizer? Além de uma tacanha visão revolucionária sobre o que Vladimir Lenin escreveu em plena revolução russa, basta ler teses e resoluções petistas para entender o delírio dessa turma.
Querem enquadrar Justiça, Ministério Público e Polícia Federal. Querem mudar o processo de promoção nas Forças Armadas e no Itamaraty. Querem “democratizar” a imprensa, usar verbas públicas para definir vencedores entre os concorrentes na mídia.
Com toda essa pesada bagagem, também querem nesse segundo turno liderar uma Frente Democrática contra a propalada barbárie de Jair Bolsonaro, sem sequer uma autocrítica sobre programas, alianças e práticas antidemocráticas. Os petistas se comportam como alguém que nunca aceita o próprio erro, tem pronta uma desculpa na ponta da língua e sempre atribui seu fracasso aos outros.
Agem agora de novo assim. Petistas, como os vitoriosos governadores do partido no Nordeste — Rui Costa, Camilo Santana e Wellington Dias– sabiam que, depois do mergulho do PT no pântano da corrupção, havia necessidade de um jogo eleitoral diferente. Até tentaram isso. Lula vetou.
Na ótica de Lula e de seus fiéis seguidores na máquina petista, mais do que vencer uma eleição, a prioridade é manter a hegemonia nas esquerdas. É por aí que o pragmatismo de Lula conversa com as viagens ideológicas de Zé Dirceu.
Só que dessa vez o jogo de constranger aliados e adversários deu errado. Primeiro porque pegaram pela frente um casca grossa como Bolsonaro que, diferente dos educados tucanos, revida em dobro cada ataque petista. Segundo porque todos, até os próprios tucanos, cansaram de tomar cascudos do PT.
Há mais de 10 dias o PT paga mico em busca de aliados, que antes desprezou. Não conseguiu nenhum. Um dos alvos foi Joaquim Barbosa, que recebeu por delicadeza uma visita de Fernando Haddad. Depois dessa conversa, os petistas espalharam que ele poderia ser ministro da Justiça. Joaquim não gostou. Passaram, então, a propagar que Joaquim Barbosa iria manifestar um apoio público a Haddad. Depois, incluíram na narrativa que dependeria do aval da família dele.
Parecem ter esquecido que, pela raiva contra sua relatoria no Mensalão, foram os petistas que propagaram nas redes sociais ataques sobre supostas agressões de Joaquim Barbosa à própria mulher. Também é atribuído a eles a volta do assunto quando Joaquim Barbosa avaliava se entrava ou não no páreo presidencial.Eles até podem ter passado uma borracha nisso. Amigos de Joaquim Barbosa dizem que ele não.
Com seus defeitos e qualidades, Ciro Gomes vislumbrou a possibilidade de Lula barrado no jogo ser escalado na sua vaga. Manteve essa estratégia, mesmo sabendo que o PT não abre espaço para ninguém. O que não esperava foi a rasteira dada por Lula, em sua cela na PF em Curitiba, que tirou o PSB de sua coligação.
Até o calejado Ciro ficou sem chão. Foi à luta com a faca nos dentes. Como se nada tivesse acontecido, Haddad, Jaques Wagner e até Gleisi Hoffmann o assediam agora como se ele tivesse obrigação de apoiá-los no segundo turno. O mesmo ocorre em cobranças a Fernando Henrique Cardoso e Marina Silva.
O PT parece chocado porque ninguém se mostra disposto a lhe passar um cheque em branco.
Até nessas relações com possíveis aliados ainda não conseguiu fazer uma autocrítica crível.
Mesmo com péssimas perspectivas eleitorais, o PT vai manter essa mesma postura. Seus aliados e adversários acham que sim.
A conferir.