No JN, Bolsonaro foi inteiramente Bolsonaro e Haddad foi menos Lula

Os próximos vinte dias, recheados de entrevistas e debates, prometem. Em poucos minutos do Jornal Nacional desta noite, Jair Bolsonaro acertou um direto no queixo de seu vice, general Hamilton Mourão, afirmando que lhe falta tato e experiência política e considerando infelizes suas declarações sobre autogolpe e uma nova constituição feita por notáveis. Segundo Bolsonaro, embora ele seja capitão e Mourão general, quem vai mandar é ele, se for eleito presidente. Foi uma pequena amostra do que virá ainda pela frente na campanha.

Bolsonaro tentou tranquilizar os que vêem riscos à democracia com sua eleição, assegurando que será um “escravo da nossa Constituição”,embora já tenha anunciado proposta de mudança para reduzir a maioridade penal. Propôs ainda que o país, segundo ele “dividido pela esquerda”, seja pacificado, “sob as cores da nossa bandeira verde e amarela e do hino nacional”, embora tenha pregado a necessidade de um governo com autoridade.

Ao agradecer os votos recebidos no primeiro turno,dirigiu-se diretamente aos evangélicos, aos setores da agricultura, às Forças Armadas, à família brasileira e aos caminhoneiros. Aproveitou para anunciar uma série de negativas: não vai acabar com o bolsa família, não vai aumentar o imposto de renda, não vai recriar a CPMF.

Se, no JN desta segunda, Bolsonaro foi mais Bolsonaro do que nunca, Haddad foi menos Lula do que sempre. O candidato do PT, em nova estratégia, não deu boa noite a Lula e nem citou o ex-presidente. Focou sua fala sobretudo na comparação entre os projetos, identificando o seu com a social democracia, a inclusão, emprego e educação. Alertou para o risco da perda de direitos sociais e trabalhistas. Não teve inibição em dizer que reviu a polêmica proposta de criar condições para uma constituinte, informando que vai propor as reformas por emenda constitucional mesmo.

Defrontado com situação semelhante a de Bolsonaro em relação a Mourão a respeito de uma afirmação de José Dirceu sobre tomar o poder, foi mais diplomático, mas firme: “o ex-ministro não participa da minha campanha, não participará do meu governo e eu discordo da formulação da frase”.

 

O JN fez perguntas incisivas aos candidatos, sobretudo em relação a riscos à democracia, mas não foi nem de longe tão duro quanto nas entrevistas anteriores. Haddad parecia ter levado mais sorte ao ser perguntado por Renata Vasconcelos, enquanto o entrevistador de Bolsonaro foi William Bonner. Mas ambos estavam visivelmente mais comedidos.

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