Pelo andar da carruagem, quem sempre controlou as rédeas, perdeu o controle da boleia. A grosso modo, essa corrida presidencial, mais ou menos reproduzindo as anteriores, dividiu o país em três terços. Pelo fato de a corrupção ter atingido a praticamente todos, só mudou o impacto em cada um deles.
Lula, por exemplo, surfando nas falcatruas alheias, conseguiu neutralizar sua própria condenação por corrupção e lavagem de dinheiro, e manter seu cacife eleitoral intacto a ponto de poder transferi-lo para Fernando Haddad. A burocracia que manda na máquina petista, a princípio, não gostou dessa opção.
Foi só o começo do que ela vai ter que engolir. Haddad não foi escolhido por Lula para satisfazer seus devotos, mas, sim, pela expectativa do que os sectários petistas consideram defeitos se transformem em dividendos eleitorais no pega pra capar de um acirrado segundo turno presidencial.
Baseados nas pesquisas eleitorais, a expectativa dos petistas é de enfrentar Jair Bolsonaro no segundo turno. Diferente dos páreos anteriores, Bolsonaro, além de conquistar um dos terços dessa parada, aposta numa briga agressiva contra o PT. E vice-versa.
Parecem ficar fora desse ringue as luvas tucanas. Foram escanteados com a estratégia de Bolsonaro, mais intuitiva do que pensada, de peitar de frente Lula e o PT — a mesma que o petismo há tempos usa para surrar os tucanos. Ficou ainda mais fácil para ambos contendores a postura algo insossa de Geraldo Alckmin, que estreou com historinhas piegas na propaganda eleitoral.
Bolsonaro até aproveitou menos, por ter sido alvo de um atentado, e está tendo que conciliar uma difícil convalescença com a campanha eleitoral — e o desgaste de um desastrado vice deslumbrado com a súbita notoriedade.
Lula enxergou aí oportunidades. Superada a fase de disputar com Ciro Gomes o espaço na centro-esquerda, mais ou menos assegurada a vaga para o segundo turno, mudou rapidinho de estratégia. Vencida a batalha na esquerda, a meta agora é disputar o voto no centro e na direita. Num piscar de olhos, Fernando Haddd trocou de figurino, voltou a vestir os trajes tucanos.
Os tucanos, com a indecisão habitual, ainda não sabem o que vestir. Assim, provocaram uma dança de cadeiras no outro terço do eleitorado que, até por comodismo, costumava seguir o PSDB. Deixou essa turma sem pai nem mãe. Quem os acompanha nas redes sociais, sente o desconforto com a falta de rumo. Tem gente pulando no escuro para o barco de Bolsonaro. Outros embarcando a contragosto na canoa petista.
Pior é o dilema para quem não quer fazer nenhuma dessas opções. É historicamente mais chegada ao voto útil do que ao voto nulo. Não quer a volta de gente ligada ao PT ou de herdeiros da ditadura militar. Pelas projeções dessa última pesquisa do Ibope para o segundo turno, essa turma pode ser decisiva.
A conferir.