Por volta de 15h30, subitamente, a caminhada, liderada pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), paralisou-se entre os cruzamentos das ruas Halfeld e Batista de Oliveira, no Centro de Juiz de Fora. Bolsonaro, erguido e carregado pelos apoiadores, já caminhara pouco mais de 350 metros desde o Parque Halfeld – onde a militância concentrara e o recebera – e, ainda, percorreria outros 350 até a Praça da Estação. Parada, parte da multidão, mais recuada continuava extasiada enquanto, possivelmente, o candidato já havia sido perfurado. As conversas cessadas foram as primeiras denúncias; os olhares, perdidos e curiosos, confirmariam a suspeição de que algo fugira da normalidade.
A uma hora da tentativa de homicídio, milhares de pessoas aglomeravam-se em frente à Câmara Municipal, no Parque Halfeld, à espera do presidenciável. Poucos minutos antes da chegada de Jair Bolsonaro, os entusiastas do candidato entoavam, dentre alguns cânticos, o Hino Nacional; “mito”, religiosamente cantado pelos apoiadores, foi algumas vezes gritado. Parte dos apoiadores trajavam camisetas com imagens de Bolsonaro – modelos da peça estavam à venda por R$ 30. Outros enrolavam-se em bandeiras. Da República e, também, do Império.
Às 15h15, Jair Bolsonaro acenara, da janela de um carro à multidão. Empolgado pela recepção a queima de fogos, ergueu-se para fora do veículo e, em alguns segundos, subiu em cima do carro para saudar a militância. Trajava uma camiseta de manga amarela, detalhada em verde, e com os dizeres “o Brasil é o meu partido”. Tão logo desceu do teto do veículo, Bolsonaro foi alçado por um dos apoiadores; “o capitão chegou”, cantavam. Homens adultos e de meia idade eram maioria. Mas adolescentes, sejam meninos ou meninas, misturavam-se ao coro. Então carregado, o presidenciável saíra em direção à Praça da Estação, onde o presidenciável faria um comício da sacada da Associação Comercial e Empresarial local.
Meado o trajeto, a multidão estagnou-se. Razoáveis segundos entre o princípio de silêncio e o início dos primeiros gritos e deslocamentos impuseram-se aos presentes. A distância entre o êxtase e a desorientação. O tumulto estava dado. A retaguarda da aglomeração era para trás empurrada. De sopetão, não mais o viam. Focos de pequenas confusões fizeram-se perceptíveis. A descida desenfreada pelo Calçadão de uma viatura da Polícia Militar noticiou-se pela sirene. O desencontro de informações, a esta altura, tomou a boataria.
Alguns assustavam-se diante dos rumores de tiros. Outros preocupavam-se com uma possível tentativa de agressão a Jair Bolsonaro. Poucos minutos após o tumulto, o presidenciável ali não mais estava. Em pé na beirada de uma viatura, um cabo militar, estacionado no meio da Rua Batista de Oliveira, mostrava semblante desatinado ao buscar o tumulto. Informações não eram passadas por militares; possivelmente, não havia ainda informações oficiais.
O suspeito, conforme os apoiadores, fugira, após ser linchado, para um prédio. Pedreiros, sobre a marquise de um edifício em obra, no cruzamento entre a Halfeld e a Batista de Oliveira assistiam, aparentemente indiferentes, à confusão. Lojas à beira da rua fechavam às pressas as portas. Militares adentraram o residencial no qual estava o homem; bloqueada a entrada, parte da multidão, inflamada, colava-se nos policiais em busca do agressor. Bons minutos foram necessários para escoltá-lo até uma viatura; mais outros, para dirigir o veículo para fora da multidão. “Deram uma facada no Bolsonaro”, esparramou-se pela multidão.
Desencontros intimaram um tenente coronel da Polícia Militar a entregar à imprensa: fora Adelio Bispo de Oliveira, 40 anos, autor da facada. Os militares estavam também ligeiramente perturbados. Grupos formavam-se em meio à multidão. Em cada um deles, uma voz altiva sobressaia-se relatando a própria versão do acontecimento. “O candidato foi atingido por uma faca no peito. Mas eu não consegui ver sangue porque tinha muito empurra-empurra”, disse aquele. Outro, um tanto quanto polido, contou que “um cidadão desconhecido enfiou um objeto pontiagudo na barriga do candidato”.
Dispersos e fora de si, repórteres caminhavam de um lado a outro. Relatos eram buscados, ainda que não soubessem precisamente aonde. Por volta de 16h40, os apoiadores já esparramaram-se. No local, apenas os militantes mais fervorosos. À medida que os minutos corriam, mais os presentes menos sabiam. A história raleava-se. O presidenciável Jair Bolsonaro, a gosto de Aloísio Vasconcelos, presidente da Associação Comercial e Empresarial, passaria-se por Itamar Franco. Discursaria, assim como o ex-presidente, da mesma sacada quando Itamar pleiteou a prefeitura de Juiz de Fora. Bolsonaro, entretanto, saiu-se como João Pessoa.