Geraldo Alckmin tem prazo para mostrar a que veio. A partir de 31 de agosto, terá duas semanas, com seu amplo tempo de propaganda no rádio e na televisão, para decolar na campanha, e não perder o apoio do pragmático establishment político e econômico, que não abre mão de ter um candidato que de alguma forma possa chamar de seu no segundo turno.
Com quase metade de todo o horário eleitoral,sonho de consumo dos demais presidenciáveis, Alckmin deveria estar com a faca e o queijo nas mãos. O problema é se essa mega exposição no rádio e na tevê, com as novas regras que restringem o espaço para as pirotecnias de marqueteiros, não der o resultado esperado. Em sua equipe alguns receiam que uma overdose televisiva possa se tornar contraproducente — uma inusitada dúvida de quem tem banquetes à disposição enquanto outros passam fome. Por suas quatro gestões em São Paulo, ele tem muitas realizações para mostra. Mas sua fala monocórdica pode cansar o telespectador.
Nesses primeiros dias em que quatro candidatos — Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Marina Silva e o próprio Alckmin — tem recebido uma cobertura especial de suas atividades pelo Jornal Nacional, alguns têm se aproveitado melhor que outros. Nessa quarta-feira (22), Bolsonaro foi exibido nos braços de sua empolgada militância, e Ciro Gomes no meio do povo nas ruas de Osasco. Marina apareceu em visita a um de seus nichos, uma cooperativa de agricultores familiares, focada em produção orgânica, com aquela fala pausada com a qual se mantém competitiva nessa embolada sucessão presidencial.Por sua vez, Alckmin esteve no Tocantins e falou no JN sobre modais de transportes e outros temas na mesma linguagem técnica que vem exasperando parte de seus apoiadores.
O que se cogita nos bastidores da campanha tucana é dar mais espaço na propaganda eleitoral para a vice Ana Amélia, com seu traquejo adquirido em décadas de atuação jornalística em tevê.
Outra aposta é no grande número de “comerciais”, em que Alckmin também será campeão, que pegará o eleitor de surpresa. Por exemplo, um bom jingle, tocado a toda hora, pode fazer a diferença.
Alckmin, portanto, parece ter uma boa janela de oportunidades. Mas, mesmo assim, não consegue acalmar seus principais apoiadores, o que se reflete na agitação no mercado financeiro.
O que inquieta as elites empresariais e os dirigentes de partido que o escolheram para arriscar fichas é a sensação de perda do encanto dos tucanos onde sempre reinaram. O fraco desempenho de Alckmin nas pesquisas eleitorais em São Paulo e no Sul do país é o que mais assusta essa turma. O medo é de que ele não chegue ao segundo turno. Esse nova pesquisa Datafolha em que continuou empacado, mas melhorou em um possível desempenho eleitoral no segundo turno, até deu uma animada no ninho tucano.
Mas, enquanto rezam para que o rádio e a TV mude a direção do vento, e conduzam Alckmin ao segundo turno, as tais elites políticas e econômicas já avaliam no entorno em quem se agarrar para atravessar a tempestade. Não se acredita ali no fôlego de Álvaro Dias. Ciro Gomes cisca daqui e dali para virar uma opção, mas ainda é visto com desconfiança. Há sinais emitidos por quem costuma expressar as avaliações do establishment que Marina Silva — tida como sonhadora, herdeira de parte dos votos de Lula, mas com os pés no chão na economia — possa ser o Plano B. Nas pesquisas, ela é competitiva no primeiro turno, e ainda mais nas projeções para o segundo turno. Tanto para um embate com Jair Bolsonaro quanto para uma eventual disputa com Fernando Haddad, se Lula conseguir iluminar seu poste.
A conferir.