Ao rebaixar para soldado raso o general-de-exército Antônio Hamilton Martins Mourão, provavelmente para aproximá-lo da sua patente de capitão, quando finalmente oficializou o seu companheiro de chapa e a coligação com o PRTB, o presidenciável Jair Bolsonaro não só reduziu sua obrigatoriedade de prestar continência ao superior hierárquico da caserna, mas também as suas chances de chegar ao segundo turno na eleição presidencial de outubro.
Militar linha-dura como ele, defensor de torturadores como o coronel Brilhante Ustra, o que os alinha a essa prática abominável de crime contra a humanidade, o general Hamilton Mourão nada acrescentará à chapa de Bolsonaro, pois os dois são uma soma de resultado zero. Ao render-se ao general, o candidato do PSL a presidente foi quem mais perdeu na escolha dos vices por manter-se preso ao quadrado em que foi sitiado nas entrevistas que concedeu à TV Cultura e à Globonews.
No presidencialismo de coalizão, as coligações vão além do tempo para a propaganda gratuita no rádio e na televisão. Nesse nosso sistema de governo, a governabilidade é buscada já a partir da formação das chapas que vão disputar as eleições, para depois ser confirmada com a formação das maiorias parlamentares. Por isso o partido A procura se juntar ao partido B para ampliar o espectro ideológico da chapa e assim atrair o maior número possível de eleitores.
Com sua candidatura de centro-direita sustentada pelo Centrão, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, foi buscar na senadora Ana Amélia, expoente da direita no PP do Rio Grande do Sul, a companheira de chapa ideal para minar Bolsonaro exatamente no Estado em que o seu balaio de votos se mostra mais recheado. Henrique Meirelles, do MDB, também nomeou o companheiro Germano Rigotto como vice para roubar votos de Bolsonaro e Alckmin do conservador eleitorado gaúcho.
Assim também fez Ciro Gomes, ao celebrar o noivado com a senadora tocantinense Kátia Abreu, do PDT como ele, mas ideologicamente à sua direita por representar o agronegócio. Até Marina Silva, da Rede, parece ter rompido velho namoro com o agronegócio e trouxe para a sua chapa o antigo companheiro do PV Eduardo Jorge, num movimento de sentido oposto ao de Ciro Gomes.
E o que fez Jair Bolsonaro? Por alguns segundos de televisão do nanico PRTB, ele finalizou a composição da sua candidatura como samba de uma nota só. O general Mourão é um genérico de Bolsonaro, tem a mesma formulação química, o mesmo princípio ativo, fazem o mesmo efeito. Em dose dupla, como qualquer remédio, viram puro veneno e podem matar o paciente, ou o eleitor.
Como nas entrevistas às emissoras de televisão, ao escolher o general Mourão para vice Bolsonaro permitiu-se junto ao seu clone ficar preso ao passado de uma ditadura tão cruel e que até hoje gera seus efeitos, pela soberba dos comandantes militares que até hoje saboreiam a impunidade que premiou antigos companheiros de farda seguidamente reverenciados pelos crimes que cometeram. Em vez de mover-se em direção ao centro, Bolsonaro pode ter dado de lambuja a Geraldo Alckmin o lugar que parecia ser seu no segundo turno.
Quem escolheu Temer
Nas entrevistas que concedeu à TV Cultura e à Globonews, ao ser cobrado sobre a participação do PSDB no governo do presidente Michel Temer, o ex-governador e candidato tucano Geraldo Alckmin (PSDB+Centrão) repetiu diversas vezes que “quem escolheu Temer foi o PT”. É verdade. O PT escolheu Temer para vice-presidente, mas quem o elegeu presidente foi o PSDB, somado aos votos do Centrão, PMDB, PPS, PTB e do PSB. Essa é a dificuldade do tucano em afastar sua candidatura do governo Temer