Os tradicionais partidos de esquerda são ciosos de suas trajetórias. Cada um deles busca referências passadas para realçar sua importância histórica. PSB e PC do B orgulham-se até das próprias siglas. Também cultuam suas raízes o PPS (tentativa do velho PCB de se modernizar) e o PDT, legenda adotada pelos trabalhistas liderados por Leonel Brizola depois de perderem a sigla PTB nos estertores da ditadura militar.
De uma forma ou de outra, todos foram ofuscados pela vertiginosa ascensão do PT. O PPS se desgarrou da turma e se alinhou aos tucanos. Os outros, alguns aos trancos e barrancos, seguiram em frente como satélites do PT.
Com Lula na cadeia, condenado por corrupção em segunda instância — o que o torna ficha suja e inelegível – PDT, PSB e até o fiel PC do B ensaiaram voos solos. PDT, na aposta de um Ciro Gomes turbinado por apoios à direita e à esquerda, parecia ter seduzido os socialistas. O PC do B pôs Manuela d`Ávila no páreo para se manter no jogo.
A raia parecia livre enquanto o PT se distraía em suas disputas internas que a nada levam. Por vontade própria ou forçados pelas circunstâncias, todos ali acabam sendo reféns das decisões de Lula. E Lula, como já escrevemos aqui algumas vezes, sempre teve a si mesmo como foco. Nunca aceitou sombra em seu protagonismo como líder das esquerdas. Imagine se toparia algo parecido como preso numa cela especial em Curitiba.
Essa é a sua prioridade absoluta. Por ela, ele cortou as asas de Ciro Gomes, enquadrou o PSB, e leva o PC do B no bico. Estica a corda ao máximo e, no limite, adoça a boca dos parceiros. Assim, ele já ofereceu a vaga de vice na chapa encabeçada pelo PT para todos os aliados. Mesmo se sentindo marionetes, Manuela e Ciro Gomes até esse sábado (4) ainda se mantêm de alguma presos a essa teia. O principal preço cobrado deles é fingirem até onde der que Lula será o candidato a presidente.
Vale tudo para manter essa peça no palco. Lula usa e abusa de sua popularidade no Nordeste, impõe alianças com Renan Calheiros e José Sarney, por exemplo, e sufoca promissoras lideranças como Marília Arraes em Pernambuco.
É uma aposta de alto risco. Tem gente de peso, inclusive no PT, avaliando que o preço imposto por Lula a esquerda pode ser caro demais. Há quem ali já receie um segundo turno, até aqui impensável, sem um candidato de esquerda.
A conferir.