O ex-presidente nacional do PSDB, ex-deputado, ex-senador e ex-governador de Minas Gerais Renato Azeredo está preso em Belo horizonte onde cumpre pena de mais de 20 anos de prisão após condenação no escândalo que ficou conhecido como “Mensalão Mineiro”, no qual foram desviados recursos de empresas do governo mineiro para financiar campanhas do PSDB no Estado. A condenação de Azeredo foi antecedida de uma série de manobras que incluiu até mesmo a renúncia ao seu mandado de deputado federal para livrá-lo da decisão iminente da Suprema Corte e o processo recomeçar na primeira instância, para onde foi remetido.
O ex-presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, é réu no Supremo Tribunal Federal por suposta prática de corrupção passiva e obstrução de Justiça, depois que foi flagrado numa gravação negociando uma propina de R$ 2 milhões com o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS. O senador ainda responde por superfaturamento nas obras da Cidade Administrativa de Minas Gerais, onde teria recebido uma propina de R$ 5,2 milhões da Odebrecht quando era governador do Estado.
O senador José Serra (PSDB-SP) recebeu R$ 20 milhões da JBS para a sua campanha para governador de São Paulo, em 2010. Segundo o doador, Joesley Batista, somente R$ 13 milhões foram doados oficialmente, e R$ 6,4 milhões por meio de notas frias emitidas por empresas sem prestação de serviços. Serra foi beneficiado pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que pediu ao STF arquivamento do processo por prescrição do crime e adiantada idade do senador, mais de 70 anos.
O PSDB governa o Estado de São Paulo há mais de 24 anos. Do período em que Serra ocupou o Palácio do Morumbi, o governador Geraldo Alckmin herdou uma fraude na licitação da linha 5 do Metrô de São Paulo, com pagamento de propina de R$ 336,9 milhões cujo pagamento foi admitido em delações pelo consórcio de empreiteiras envolvidas nas obras.
Paulo Preto, como é conhecido o engenheiro Paulo Vieira de Souza, operador do PSDB e ex-diretor da Dersa (empresa do governo paulista que cuida de obras rodoviárias, como o Rodoanel de São Paulo), é acusado de desvios de R$ 7,7 milhões da estatal. Em 2016, ele tinha R$ 113 milhões depositados em bancos suíços, segundo o próprio governo da Suíça informou ao Ministério Público brasileiro.
As obras do Rodoanel tiram o sono do ex-governador Geraldo Alckmin. Vitrine eleitoral do candidato do PSDB-Centrão a presidente da República, o rodoanel circunda a cidade de São Paulo conectando as principais rodovias do Estado. O seu trecho norte, de 44 km, teve custo inicial em 2013 de R$ 6,5 bilhões, mas já se aproxima dos R$ 9 bilhões. Acusado de desvio R$ 650 milhões o presidente da Dersa e secretário de Transportes de Alckmin, Laurence Casagrande Lourenço está preso há mais de um mês. O ex-governador jura que ele é inocente e que a sua prisão é “injusta”. Mas diz que não põe a mão no fogo pelo ex-auxiliar.
Durante os primeiros 40 minutos a entrevista de Geraldo Alckmin à Globonews ia ao ar em céu de brigadeiro. Mesmo sem reivindicar, o candidato do PSDB-Centrão recebeu do comentarista Gérson Camarotti um bônus de “direito de resposta” ao candidato do PDT, Ciro Gomes, que na noite anterior, na mesma Globonews, acusara o Governo de São Paulo de associação com o PCC. No campo dos mal feitos, nesse período da sabatina as perguntas apenas manifestavam o espanto e a indignação dos entrevistadores da Globo com a aliança de Alckmin com o PTB e os partidos do Centrão, especialmente ao PP e ao PR, envolvidos em denúncias de corrupção. Expoente da Opus Dei, até então Alckmin era tratado como uma madre superiora e o PSDB como um partido de vestais. Corrupção era coisa somente dos partidos que com ele se aliaram para tentar eleger o próximo presidente.
A bancada da Globonews só caiu na real quando Mário Sérgio Conti resolveu quebrar o gelo e a monotonia da entrevista, que se estenderia até a madrugada desta sexta-feira. O jornalista interveio começando a lembrar o candidato que o PSDB não era nenhuma vestal e passou a cobrar Alckmin posição sobre as tramoias envolvendo o partido nos governos de São Paulo e de Minas Gerais, além da omissão do partido quando Aécio Neves foi pego com a boca na botija recebendo a propina da JBS. Os outros oito jornalistas da bancada da Globo que sabatinavam Alckmin não esconderam seu espanto e procuraram se reacomodar em suas poltronas com a intervenção de Conti para trazer ao debate a corrupção nas hostes tucanas.
Como resposta, Alckmin ofereceu o argumento de que para governar precisaria dos votos do Centrão. Depois, como Pilatos, o atual presidente do partido lavou as mãos sobre as falcatruas do PSDB e dos seus companheiros. Azeredo, Aécio, Serra, nem os desvios nas obras do Rodoanel eram com ele, dono de uma vida de servidor público, iniciada como vereador em Pindamonhangaba sem receber subsídios e morador no mesmo apartamento há mais de 30 anos. Alckmin só subiu o tom de voz quando Merval Pereira ousou se referir aos “esquemas do PSDB”. Então, tomado de indignação, o candidato interrompeu o comentarista da Globo. “Merval, você precisa medir suas palavras quando falar do PSDB”, advertiu.
Momentos antes, quando cobrado da companhia dos presidentes de partidos denunciados ou que foram condenados e até cumpriram prisão por corrupção, como Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Waldemar Costa Neto (PR-SP), ou o senador Ciro Nogueira (PP-PI), Alckmin saiu-se pela tangente, afirmando que os partidos também têm bons quadros. Exemplificou com o senador Armando Monteiro (PTB-PE), candidato ao governo de Pernambuco com palanque dividido entre ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou seu substituto no PT, e com a senadora Ana Amélia (PP-RS), indicada para candidata a vice-presidente na sua chapa. Mas quando a acusação de corrupção recaia sobre as organizações partidária, Alckmin também tinha outra resposta ensaiada: “Não existe partido político no Brasil”.
Geraldo Seabra é jornalista