Revezes nem sempre são apenas insucessos. Às vezes, viram oportunidade. De tombo em tombo, era previsível que Ciro Gomes enfrentasse a bancada de jornalistas da Globonews em condições desfavoráveis. A dúvida era como ele reagiria ao anúncio, feito antes da sabatina global, do acordo do PT com o PSB, uma rasteira que lhe tirou a derradeira chance de aliança eleitoral.
Para quem tem fama de pavio curto, parecia um estopim. Alguns entrevistadores até se animaram a riscar o fósforo. Nem foi preciso.
Com precisão cirúrgica, Ciro tratou de sua relação com Lula e o PT. Expôs sua mágoa sem pieguice. Em contidas estocadas, começou a cobrar a conta dos ex-aliados dando indícios de seu potencial de estrago como adversário
De alguma maneira, essa preliminar desanuviou o clima, destravou a entrevista. Ciro ficou mais solto. Pela primeira vez, depois de muitos confrontos, ele conseguiu expor de maneira tranquila e competente propostas que antes pareciam apenas esdruxulas para alguns entrevistadores. Se elas são convincentes ou não, o debate e o voto do eleitor vão responder.
Com sucessivos fracassos na busca de aliados para a campanha – a recusa do PSB parecia a pá de cal–, do ponto de vista eleitoral Ciro meio que se desgarrou do bloco da frente. Mas, na entrevista para a bancada de jornalistas da Globonews, em que respondeu de maneira clara às questões mais espinhosas da agenda nacional, Ciro conseguiu um inegável ganho político.
Mais até que para seus sonhos ou ilusões eleitorais, seu desempenho na Globonews pode ter uma influência positiva na campanha eleitoral. Fez subir o sarrafo, que andava muito baixo, para quem tenta saltar mais alto na disputa pelo Palácio do Planalto.
É o desafio de Geraldo Alckmin na sabatina da Globonews desta quinta-feira.
E na de Bolsonaro na sexta-feira.
A conferir.