Lula mantem trancada em sua cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba a chave de seu baú eleitoral. Ali, ele recebe os mais variados interlocutores e dá atenção especial a Fernando Haddad, que lá frequenta na dupla condição de advogado de defesa e coordenador do programa de governo do PT.
A curiosidade maior sobre as frequentes visitas de Haddad é por uma suposta terceira condição, ainda oculta, de candidato a ser ungido por Lula na sucessão presidencial.
Enquanto é avaliado apenas como provável plano B de Lula, Haddad aparece na rabeira das pesquisas eleitorais na companhia de uma turma escalada apenas para fazer figuração nas preliminares eleitorais. A partir de agora, com o começo do jogo para valer, cai o número de candidatos e continua em campo os presidenciáveis com fôlego para seguir na competição.
Haddad não participa da debandada, vai continuar no limbo à espera do sinal de Lula. A estratégia de Lula, fielmente seguida pelo PT, é de se manter na disputa enquanto não for definitivamente barrado pela Justiça por ser ficha suja, condenado em duas instâncias judiciais por corrupção e lavagem de dinheiro.
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Lula e o PT já deixaram claro que não abrem mão de ter candidato próprio na sucessão presidencial. As pesquisas indicam que Lula tem bom potencial de transferência de voto. Há quem considere ser o suficiente para emplacar o abençoado no segundo turno. Outros avaliam que boa parte desses votos vai se dispersar.
Com Jair Bolsonaro, sem aliados, e Geraldo Alckmin, apoiado por uma ampla coligação, o campo da direita, moderada e radical, se definiu. A expectativa é de que um deles chegue ao segundo turno. O outro sairia do campo das esquerdas que continua bem embolado.
Enquanto Lula estica a corda, a sua revelia ou não, candidatos a seu herdeiro eleitoral vão à luta.
Depois de perder a batalha pelo apoio do Centrão, sua opção à direita, sobrou a Ciro Gomes apostar todas as fichas no apoio do PSB e, talvez, do PC do B, para ganhar musculatura na disputa pelos eleitores que tenderiam a votar em Lula. Setores do PT, alguns governadores e lideranças de peso, foram atropelados pela burocracia do partido, com o aval de Lula, quando ensaiaram uma aproximação com Ciro Gomes.
Ciro, no entanto, não desistiu deles. Se conseguir conquistar parte dos votos lulistas, especialmente no Nordeste, pode fazer uma aliança com petistas bons de voto na região. Na sexta-feira (20), na Convenção oficial do PDT, Ciro fez acenos nesse sentido. Chegou a se apresentar como candidato a tocar o barco com Lula fora do leme: “Depois de tudo o que houve com Lula, a nossa responsabilidade aumentou muito”.
Nessa sua terceira candidatura ao Palácio do Planalto, Ciro Gomes sabe que dificilmente terá outra chance como agora. Perdeu força com a recusa de apoio do Centrão, mas sem Lula nas urnas ainda continua no páreo. Diferente de Guilherme Boulos, 36 anos, que estreia em corridas eleitorais já como candidato à Presidência da República. O que render para Boulos será lucro.Há setores do PT, como antecipou o ex-governador gaúchoTarso Genro, que, com Lula fora, podem vir a apoiá-lo.
Sem a mesma urgência de Ciro, no sábado (21), na Convenção do P-Sol que homologou sua candidatura, foi bem mais explícito em relação a Lula. “Nós defendemos o direito de Lula ser candidato porque entendemos que foi vítima de condenação injusta e sofreu uma prisão política”. Boulos também deu uma estocada no concorrente Ciro, que tentou sem sucesso o apoio do Centrão. “Esse Centrão é a turma do Eduardo Cunha, é o partido da corrupção no Brasil, o toma lá, dá cá, balcão de negócios. Vão para a oposição porque não queremos nada com essa turma”.
Quem corre por fora nessa disputa pelo espólio eleitoral de Lula é Marina Silva. As pesquisas indicam que, com Lula fora, ela pode ser a principal beneficiária.
A conferir.