A estratégia do PT de embaralhar as cartas para dificultar as apostas na sucessão presidencial parece estar dando certo. Mesmo sabendo que Lula está fora do páreo, quem tem fichas para investir no jogo anda cauteloso, com receio de gastar cacife com o candidato errado.
Para nublar ainda mais o cenário, há tempos as pesquisas mostram a mesma foto, em um quadro que parece congelado.
Mas essa inércia é apenas aparente. Os bastidores estão agitados. Ao ciscar daqui e dali, Ciro Gomes vem tentando furar o bloqueio. Parecia bem próximo de uma aliança com o PSB e do almejado carimbo de candidato preferencial da centro-esquerda. Lula não gostou. Seus emissários passaram a seguir os passos de Ciro com o propósito de desfazer cada costura que ele alinhasse. O PSB subiu de novo no muro. Pode até não apoiar ninguém.
Se o PSB deixar Ciro na mão, será uma vitória do PT. O partido é muito cioso de sua influência entre as forças ditas de esquerda. Reage a qualquer ameaça a essa hegemonia. Inclusive quando tem apoio interno. Alguns setores petistas, governadores inclusive, sentiram isso na pele. Eles foram atropelados pela burocracia do partido quando flertaram com Ciro para ser uma alternativa a Lula — barrado pela Lei da Ficha Limpa pela condenação em duas instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro.
A burocracia petista é forte. Mas ela só se impôs porque essa é a vontade de Lula. Quem convive há anos com Lula, não tem a menor dúvida: ele jamais abriria espaço para um franco atirador como Ciro Gomes chegar ao poder e governar com luz própria.
Lula não aceita sombra nem de petistas. Nas eleições em que poderia se firmar uma nova liderança no partido – Presidência da República, governo de São Paulo e prefeitura de São Paulo –, Lula escalou postes, candidatos sem luz própria, para concorrer. Mesmo assim, ele se decepcionou. Se sempre evitou bola dividida em seu terreiro, essa desconfiança foi dobrada depois que Dilma Rousseff lhe passou a perna e se candidatou à reeleição em 2014.
Daí a convicção generalizada entre os petistas que, mesmo sem empolgar a máquina partidária, o presidenciável do PT será mesmo Fernando Haddad, um poste que continua a brilhar para Lula.
A conferir.