Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa
Assim como nas pesquisas eleitorais, no Twitter, o ex-presidente Lula e o deputado Jair Bolsonaro (PSL) dominaram, com folga, o engajamento dos usuários que entraram no debate das eleições na semana de 8 a 15 de junho. Pela segunda vez, desde que foi preso, há pouco mais de dois meses, Lula voltou a liderar o ranking de relevância e visibilidade dos pré-candidatos no Twitter. Um tuíte sobre o Dia dos Namorados e outro que originou uma polêmica sobre um rosário abençoado pelo papa Francisco geraram elevado engajamento, e ajudaram a garantir ao ex-presidente 35% do total de relevância dos pré-candidatos a presidente no Twitter.
Bolsonaro manteve o 2º lugar no ranking pela terceira semana consecutiva, como indica a análise semanal da AJA Solutions. A fatia dele no total de relevância dos pré-candidatos está praticamente estacionada em torno de 20% desde a semana de 25 maio a 1 de junho.
O perfil @lulapelobrasil foi autor do tuíte de maior relevância da semana no ecossistema das eleições no Twitter: “Quando bate aquela vontade de voltar para o ex”, dizia o tuíte do Dia dos Namorados, em cima de uma foto de Lula, com as mãos em formato de coração. Com mais de 13 mil likes originais, foi retuitado e comentado de forma exponencial.
Um rosário abençoado pelo papa e dado ao ex-presidente por um advogado argentino provocou uma batalha entre apoiadores e opositores de Lula. O tuíte inicial no perfil @lulapelobrasil disse, erradamente, que o rosário tinha sido enviado pelo papa. A informação foi contestada e a polêmica criada contribuiu para impulsionar a visibilidade do ex-presidente no Twitter. A primeira vez em que Lula liderou o ranking quando já estava na prisão, foi no período de 19-26 de abril. Naquela semana, seu perfil foi impulsionado pela vencedora do Big Brother Brasil, Gleici Damasceno, que gritou Lula Livre ao vivo, na TV, ao ser anunciada como vencedora.
Bolsonaro teve sua relevância reforçada principalmente também por dois tuítes. O de maior engajamento foi uma mensagem de “parabéns”, em português e inglês, a Donald Trump por “esta conquista em prol da liberdade e paz mundial”, no dia do encontro do presidente americano com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un. Com quase 53 milhões de seguidores, @RealDonaldTrump não respondeu aos cumprimentos, mas o tuíte repercutiu entre os apoiadores de Bolsonaro, com mais de 15 mil likes originais.
O segundo tuíte que mais resultou em engajamento com o deputado foi sua revolta contra os resultados da pesquisa do DataFolha, indicando que Lula lidera ou, sem ele, no segundo turno, Marina Silva venceria. “Datafolha, continuas pagando vexame e com certeza recebendo algo de muito bom dos seus patrocinadores”, diz em vídeo, insistindo que vai ganhar.
Em 3º lugar no ranking dos pré-candidatos, Manuela D’Ávila, do PC do B, que ficou em primeiro nas duas semanas anteriores. Ela perdeu em relevância por ter estratificado sua narrativa, concentrando-se especialmente na pauta das mulheres, como a votação e aprovação pela Câmara de Deputados da legalização do aborto na Argentina. Nas duas semanas anteriores, tinha diversificado os temas de tuítes, conseguindo atrair diferentes públicos.
Em 4º, Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL e coordenador do MTST, que está nesta posição há três semanas. Conseguiu manter sua parcela no total de relevância com um conjunto de tuítes, mas o de maior engajamento foi uma provocação a Bolsonaro. “Quem não tem o que dizer foge dos debates. A psicanálise nos ensina: a agressividade oculta o medo”, disse, tuitando uma matéria informando que o deputado não participaria de uma sabatina organizada por Folha, UOL e SBT. O tuíte gerou intensa troca de comentários, com apoio a Boulos e críticas ao deputado e vice-versa.
Esses quatro pré-candidatos – Lula, Bolsonaro, Manuela e Boulos – formam a linha de frente da relevância no Twitter e vêm se revezando entre os primeiros lugares desde o começo de abril. São os únicos que, em todo período, conseguiram se manter acima do patamar de relevância – abaixo do qual, os pré-candidatos não conseguem gerar diálogo em volume suficiente para que sua mensagem seja ouvida e tenha potencial para ser usada como instrumento de persuasão na busca de votos.
Nesta semana algumas hashtags tiveram mais relevância do que o total de interações de muitos pré-candidatos (veja ranking de hashtags abaixo). A #timelula teve a atenção de 90 usuários a mais do que Manuela e 6,8 vezes mais do que todas as interações do presidente Michel Temer que, por sua vez, está na mesma faixa de relevância que #joaoamoedonajovempan e #bolsonaro2018.
Sobre a análise semanal da AJA Solutions
A análise de visibilidade e relevância da AJA aponta exatamente quem o pré-candidatos sensibilizam, a capacidade comunicacional de suas redes e mesmo se as estratégias de comunicação digital conseguem ultrapassar a barreira do patamar de relevância, conferindo a eles visibilidade suficiente para que suas propostas cheguem à audiência potencial. A grande penetração das redes sociais é um componente essencial do tempo que os candidatos têm para se comunicar com os eleitores, que não mais está restrito à na TV. O imediatismo e as reações rápidas do Twitter permitem antecipar tendências.
A visualização dos dados nos mapas de relevância e regiões de influência e afinidade serve para avaliar as inter-relações de candidatos, público-eleitor, links, imagens e hashtags. O algoritmo proprietário calcula a semelhança entre cada um e os agrupa por afinidade, construída pela associação de narrativas, palavras-chave, discursos nos comentários e outras formas de engajamento.
Como na música, cada uma dessas regiões é delimitada pelo quanto os usuários estão em harmonia sígnica entre si, afinados por um determinado diapasão. As regiões de afinidade representam, assim, a fragmentação da audiência online interessada na eleição, o que permite descobrir com exatidão o que é relevante para cada agrupamento e, consequentemente, qual é a melhor estratégia de comunicação para sensibilizar cada faixa de público e o que ressoa em cada uma delas.
Já o mapa de relevância e visibilidade dos pré-candidatos revela os erros, acertos e os caminhos que podem ser feitos para ganhar relevância no Twitter. A versão interativa dos mapas está disponível para assinantes.