Domingos da Guia. Esse sim é um dos deuses do futebol. Da galeria de Pelé, Garrincha, Leônidas, Nilton Santos, Rivelino, Didi, Gérson, Zico, Beckenbauer, Cruyff… Craque da Seleção Brasileira de 1938. Não foi campeão do mundo. Ainda assim, entrou para história como um dos mais admiráveis jogadores de todos os tempos, como exemplo de técnica, classe e lealdade. Faleceu em maio de 2000, aos 88 anos.
É em Domingos em quem os zagueiros deveriam buscar referências de como jogar.
Domingos da Guia é um dos personagens do livro “Senhoras e Senhores”, com fotografias e entrevistas de notáveis oitentões do Brasil. Fui encontrar o grande Domingos em seu singelo apartamento no segundo andar de um pequeno prédio sem elevador, no bairro do Méier, subúrbio do Rio. Acostumado ao convívio com personagens que exageram na exacerbação do próprio ego, nem me parecia estar diante de uma excelência.
Vestia camiseta de malha, chinelos de dedo e bermuda baratinha. Na sala, um sofá-cama. Sobre cômoda, um velho álbum com fotos e recortes de jornais, alguns troféus, uma tevê preto-e-branco, um rádio de mesa. Num canto ao pé da parede, enfileirados, pôsteres já descoloridos dos times em que brilhou: a Seleção Brasileira, o Flamengo, o Vasco, o Corinthians, o Boca Juniors, o Nacional de Montevidéu. E o Bangu.
Por três vezes durante a sessão de fotos o telefone tocou. Na primeira, era um filho que chamava de São Paulo querendo saber de sua saúde. Na segunda, um zagueiro da Seleção, treinada à época, 1991, treinada por Paulo Roberto Falcão. Queria conselho sobre como se refazer de uma derrota. Na terceira, não sei quem foi. Mas o ouvi declinar gentilmente de um convite para a festa de campeão daquele ano, o Flamengo.
Ah, Domingos é pai de Ademir da Guia, o ídolo maior do Palmeiras, aquele filho do telefonema de São Paulo. Aliás, outro deus do nosso futebol. Não é por outra razão que o chamam de “Filho do Divino”.
Orlando Brito