Alguém achou que, prendendo Lula, tudo iria se resolver. Mas esse é o problema das soluções que não são naturais. Trancafiado há dois meses em sua cela em Curiitba, é praticamente certo que o ex-presidente não será candidato à presidência. Mas Luiz Inácio Lula da Silva, com sua resiliência eleitoral, deu um nó no quadro e congelou a eleição, como ficou claro mais uma vez no Datafolha deste domingo. As consequências disso para o futuro, sobretudo no tocante à (falta de) legitimidade de quem acabar sendo eleito, são imprevisíveis.
A insistência do PT em manter ao máximo a candidatura Lula – possivelmente até a segunda quinzena de agosto – não permite uma virada de página no quadro eleitoral, que permanece praticamente o mesmo desde abril, quando foi divulgado o penúltimo Datafolha. Lula em torno dos 30% no cenário em que é candidato, Bolsonaro liderando com 19% quando o ex-presidente é excluído, quadro em que Marina Silva salta para 15% e Ciro Gomes para 10% – só este último cresce um ponto de abril para cá na mudança de cenário sem Lula, mas está na margem de erro.
Tudo permanece na mesmíssima situação, com Geraldo Alckmin empacado lá nos 7% e Álvaro Dias (5%) tirando dele nas regiões sul e sudeste. Os nanicos, alguns deles grandes homens na visão do establishment, continuam micro com seus 1% de teto. E é recorde o número dos que vão votar branco ou nulo, sobretudo entre os órfãos de Lula na hipótese – hoje praticamente certa – de o ex-presidente ficar fora da cédula.
O resultado disso, com o ingrediente na Folha apontado como “letargia” do eleitorado, é esse congelamento anômalo do quadro. Nada anda. O eleitor não se anima com os candidatos disponíveis na prateleira e os partidos, por sua vez, não se animam a dar seguimento a articulações e alianças que, a esta altura do campeonato, já deveriam estar muito mais avançadas. E não só no campo de Lula, à esquerda, mas também na centro-direita.
Como Lula se mantém candidato e o PT não revela se, quando a hora chegar, vai lancar Fernando Haddad, Jaques Wagner, ou mesmo apoiar Ciro Gomes, partidos desse campo, como o PSB, não sabem o que fazer. Vão logo para Ciro ou esperam o candidato de Lula? Ciro, por sua vez, não sabe se espera para entregar sua vice ao PSB ou se fecha logo com o PP, ao qual se filiou o empresário Benjamin Steinbruch, e com o Dem, com quem começou a conversar.
O congelamento imposto por Lula ao quadro, portanto, atinge também as forças de centro-direita, que iriam inicialmente para Geraldo Alckmin mas que recuaram diante das suas dificuldades de crescimento. Esse pessoal (PP, PR, DEM) só gosta de ir na certa, ou seja, apoiar quem vai ganhar – e hoje ninguém tem a menor ideia de quem vai ser, porque o quadro comtinua com a consistência de um mingau. Até em aliança entre o PSDB de Fernando Henrique e a Rede de Marina já se falou.
Talvez o único que leve vantagem nesse barata-voa das forças de centro seja Jair Bolsonaro, que corre numa faixa própria enquanto os outros se engalfinham. Lá da cadeia, é possível que Lula esteja até se divertindo com a constatação de que prenderam, mas não mataram a jararaca, que mesmo em cativeiro ainda mete medo e paralisa todo mundo.