A Petrobras não vai fechar o capital. A configuração de empresa mista, com ações vendidas no mercado deve continuar, não obstante as pressões para que a empresa reflua para o formato de estatal clássica, subordinando sua gestão a políticas de governos. Este seria o fim da gestão implantada nas últimas décadas.
Nas últimas semanas, enfraquecida pelo levante dos caminhoneiros, a Petrobras trocou de presidente — Ivan Monteiro substituiu Pedro Parente — e teve seu modelo fortemente criticado por todos os segmentos da gestão do estado. A esquerda condena a captação de recursos através de aporte de capitais nos mercados (as bolsas), dizendo que isto subordina a empresa a interesses capitalistas. Às correntes à direita se atribuem interesses inconfessáveis, que se abririam desde associações duvidosas com os magnatas do imperialismo até as ganâncias de correntes internas clientelistas.
A estridência com que essas movimentações vêm conseguindo espaço na mídia e nas tribunas está assustando os investidores em ações que, temendo o derretimento de seus ativos, estariam fugindo dos papéis da estatal.
As volatilidades dos papéis no mercado secundário, nos pregões brasileiros e no exterior, refletem apenas em parte essa situação. A verdade comercial será exposta quando a Petrobras oferecer ações novas no mercado primário. É nesta fase que se revela a confiança do investidor de longo prazo. O teste não é o pregão, mas a chamada de capital.
A volta da Petrobras à posição de estatal convencional não se deve unicamente à constatação de que o Tesouro, provedor de recursos do acionista majoritário, não tem fundos para sustentar às necessidades mínimas de capital da empresa. Há outro motivo importante: a sustentação dos valores dos ativos dos investidores institucionais, neste caso, os fundos de pensão dos funcionários das 140 estatais brasileiras.
Essas instituições gigantescas são os mais importantes investidores nos mercados de capitais e imobiliários do País. A esmagadora maioria das empresas de capital aberto têm nessas fundações (os fundos são entidades não lucrativas) sua fonte de recursos novos.
Os fundos aplicam pesadamente em títulos públicos de renda fixa e ações, ativos de renda variável e de risco, de grandes e solidas empresas. Neste caso, a Petrobrás é referência. Não são acionistas individuais nacionais ou estrangeiros os tais “especuladores” denunciados nos discursos de teor ideológico, mas fundos de capitalização para aposentadoria de empregados assalariados, tanto de empresas públicas como privadas.
Esses fundos, investidores institucionais, são os grandes credores das dívidas públicas brasileiras, da União, estados e municípios. Neste caso, as fundações estão pressionadas pela queda vertiginosa dos juros do governo federal (Selic). Com a derrocada da Petrobras, levando consigo o mercado de ações, pode criar-se uma situação dramática.
É para assegurar a estabilidade do sistema de previdência privada que o modelo de negócio da Petrobras não pode ser alterado neste momento. Para manter essa roleta andando é necessário seguir as regras do mercado internacional. E assim vai ser.
Portanto, a Petrobras terá de se portar muito bem no figurino capitalista e dar demonstrações vigorosas de que é uma empresa estável e que merece a confiança dos investidores de longo prazo. Um fundo de pensão quando aplica num projeto está pensando no prazo de 30 anos, pelo menos, que corresponde ao tempo de serviço de seu segurado até poder ter sua aposentadoria complementar garantida pelos investimentos do seu fundo de pensão.
Há muito mais água correndo por debaixo dessa ponte. Petróleo é um assunto complexo. Aqui a matéria é apenas um corte neste problema. Estar atrelada às necessidades dos fundos dos funcionários públicos ou empregados das estatais é um ponto de resistência imbatível para impedir a re-estatização da Petrobras. Manda quem tem poder.