Na noite da quinta-feira (24), antes mesmo de ser encerrada a encenação, no Palácio do Planalto, de um acordo entre o governo e os caminhoneiros, reações que pipocavam nas redes sociais mostravam que a greve/locaute continuaria. Eliseu Padilha, há 20 anos mestre de cerimônia de outra caótica negociação com os caminhoneiros, tentava emplacar a versão de um bom e sólido acordo com os grevistas. Nem quem participou da longa e difícil negociação, e assinou o acordo, estava convencido de sua validade.
A essa altura, os militares já sabiam que a encrenca iria sobrar para eles. A situação, que já estava fora de controle, se agravava com atrapalhadas iniciativas no Congresso e no Planalto.
Pior que seu gigantesco erro nas contas, foi a autoindulgência de Rodrigo Maia ao dar ares de banalidade a uma garfada de quase R$ 10 bilhões nos cofres públicos, ou melhor, no bolso do contribuinte.
Ao dizer que bilhões pra cá, bilhões pra lá, nem fazem diferença no fechamento das contas da União, Maia jogou gasolina na fogueira dos caminhoneiros. Passaram a cobrar uma conta bem mais salgada para reverter o caos provocado pelas paralisações nas rodovias.
Sem dinheiro para bancar tamanhas concessões, acuados pelos transtornos país afora, Temer e Padilha juntaram remendos na costura de um acordo. Cobria aqui, descobria acolá. Não deu certo.
Na manhã da sexta-feira (25), houve a troca da guarda, com o general Sérgio Etchegoyen substituindo Eliseu Padilha no comando do gabinete de crise. Temer, então, avisou o país que estava passando a bola para os militares, dando a impressão que, se as concessões não funcionassem, a greve acabaria na marra. Na verdade, a crença palaciana era de que a simples convocação dos militares produziria eficaz efeito de dissuasão. Pura ilusão, típica de inquilinos em palácios sem noção do que se passa no mundo real do lado de fora.
Algumas horas depois, nas intermináveis reuniões palacianas, a turma se animou com a informação de que a saída dos caminhões tanques da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) estava liberada. O general Etchegoyen fez questão de anuncia-la na entrevista coletiva do novo comando da crise. O único problema é que o piquete na porta da histórica refinaria continuava a pleno vapor. Só eram liberados caminhões que levariam combustíveis para os militares e demais forças de segurança, hospitais, e outras poucas atividades públicas. No sábado continuou igual. Ainda assim, no balanço que fizeram no começo da noite do sábado, Etechegoyen e o ministro Raul Jungmann, com caras bem mais abatidas do que na véspera, insistiram que a Reduc estava liberada. Não estava.
Fora alguns avanços não muito significativos, o que no sábado deu algum ânimo à turma do Planalto foi a iniciativa aparentemente bem sucedida do governador Márcio França. Ele negociou novas concessões com representantes dos caminhoneiros que, de fato, mostraram capacidade de liderança ao liberarem os bloqueios na Rodovia Régis Bittencourt, em Embu das Artes, e no Rodoanel. Só que elas também são salgadas. Serão novas despesas, a serem arcadas com o dinheiro dos contribuintes, para ressarcir as concessionárias com a redução do faturamento nos pedágios. Pelas contas de Márcio França só no Estado de São Paulo seriam R$ 50 milhões por mês.
O governo federal teria, também, de assegurar que o desconto prometido no preço do diesel na refinaria, além de vigorar por mais tempo, chegará também às bombas dos postos de gasolina. Como a maior parte do diesel consumido no Brasil é importada, com preços fixados no mercado internacional, o governo terá que encontrar uma fórmula meio mágica para o acerto dessas contas. Em nome de Temer, Marun prometeu ao líderes das paralisações nas rodovias paulistas uma resposta ainda nesse domingo. Por sua dimensão logística, onde transita grande parte da riqueza do país,um acordo em São Paulo é o fim da greve/locaute país afora.
A conferir