A se confirmarem os planos da cúpula do MDB, nesta terça-feira, no lançamento do documento Encontro com o Futuro, será confirmado que Michel Temer abrirá mão de sua candidatura à reeleição em favor de Henrique Meirelles. Além de mais um enredo na linha da “volta dos que não foram”, já que a candidatura Temer nunca existiu de verdade,trata-se de um encontro com um futuro para lá de incerto: o ex-ministro da Fazenda ganha a candidatura no momento em que perde o discurso.
Na semana passada, ficou mais claro do que nunca: os números do desemprego, com sua dose cavalar de desalento, a disparada do dólar e a redução nas previsões para o crescimento do PIB acabaram com boa parte das ilusões dos que acreditavam que a economia poderia, em algum momento, ser um bom cabo eleitoral para o candidato do Planalto. Não é e não será. Ao contrário, a deterioração do quadro, no lugar de uma retomada do crescimento que não engrena, vai é alimentar o discurso dos candidatos oposicionistas.
Henrique Meirelles foi, nos últimos dois anos, o fiador e a âncora da política econômica que, de fato, reduziu a inflação e os juros e acenou com o fim da recessão e a recuperação do crescimento. Se estivesse no Ministério da Fazenda, ou se para lá voltasse, poderia, quem sabe, acalmar os mercados nervosos usando sua interlocução junto aos setores financeiros.
Não é esse o caso, porém. O Meirelles candidato pode até tentar jogar o discurso do medo de que só ele, com sua política de estabilidade fiscal, poderá evitar o pior. Mas eleição não se ganha assim, sobretudo quando aquele que se apresenta como salvador da pátria passou dois anos no governo e não deu um jeito na situação. A narrativa de quem pede mais uma chance para resolver os problemas não resolvidos está muito distante daquela que dá base à maioria das reeleições sob o argumento da continuidade.
Continuar o quê? O desemprego? A inflação e os juros menores não foram capazes de inocular no eleitor a sensação de bem estar necessária para que, na urna, ele escolha os candidatos ligados ao governo. Por enquanto, é isso que está valendo.
Um dos ativos de Meirelles, hoje com 1% nas pesquisas, é sua baixa rejeição, sobretudo por ser bastante desconhecido do eleitor. Mas será que, na medida em que for se tornando conhecido, conseguirá separar sua imagem da do recordista de impopularidade Michel Temer, cujo governo serviu por dois anos? Difícil.
É por isso que a explicação mais razoável para a decisão da cúpula emedebista de lançar Meirelles como pré-candidato só pode ser mesmo aquela: dindim. O abastado ex-ministro, que fez fortuna como executivo do sistema financeiro, prometeu bancar do próprio bolso sua campanha, permitindo que o MDB use os recursos do fundo eleitoral para financiar os demais candidatos a goverrnador e ao Legislativo. Os emedebistas têm milhões de motivos.