Há dois anos, quando Dilma Rousseff foi apeada do poder, seus aliados protestaram contra o “golpe” e apostaram que o “volta, querida” faria algum sucesso até o final do mandato. Pelo menos dessa turma, esperava-se, no sábado 12, algum barulho. Fora pequenos registros aqui e acolá, a data em que o Senado, por 55 votos a favor e 22 contra, abriu o processo de impeachment e despejou Dilma do Palácio do Planalto praticamente passou em branco.
Teve muito mais destaque, por exemplo, o tímido e desfavorável balanço dos dois anos da gestão de Michel Temer, um governo com a popularidade no chão.
As energias de petistas e de poucos aliados são gastas apenas em campanhas, cada vez mais esvaziadas, contra a prisão de Lula. O receio em algumas hostes petistas é de que o tempo e a falta de perspectiva — agravada pelo fim da ilusão de que o STF logo tiraria Lula da cadeia – enfraqueçam ainda mais a mobilização de devotos e militantes.
Desde que o juiz Sérgio Moro decretou a prisão de Lula, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, os lulistas somam decepções. Esperavam uma comoção, frustraram-se com a indiferença popular. Apostaram na capacidade de sindicatos e movimentos sociais puxarem protestos de alguma relevância, frustraram-se de novo. Frustraram-se, inclusive, com uma suposta índole do povo brasileiro, com uma ponta de inveja dos hermanos argentinos.
— O nosso povo tem um jeito de encarar. Tenho certeza que se fosse o sangue argentino, isso aqui estaria pegando fogo – comparou Luiz Marinho, em entrevista à Cátia Seabra.
Para manter a chama minimamente acesa começaram a pipocar cartas atribuídas a Lula. Algumas, bem rebuscadas, com argumentos jurídicos e econômicos de alguma complexidade, bem diferente do tom coloquial de outras. Uma delas, dirigida a um encontro nacional de prefeitos, em Niterói, foi remetida como se tivesse sido escrita em São Paulo, e não em Curitiba, onde Lula cumpre pena em cela especial. Elas costumam ser endereçadas a Gleisi Hoffmmann, escolhida por Lula como sua porta-voz durante sua estadia na cadeia.
Em seu estilo bate pronto, Gleisi, com o apoio da burocracia do partido, sempre atropelou toda e qualquer iniciativa de lideranças petistas de conversar com parceiros da esquerda sobre alternativas para a candidatura Lula. Alguns líderes com muito mais história no partido não gostaram nada dos pitos públicos de Gleisi. Em outra correspondência, lida na reunião da Construindo Novo Brasil (CNB), a corrente majoritária do PT, Lula respaldou Gleisi e detonou os tais Plano B e C. “Se aceitar a ideia de não ser candidato, estarei assumindo que cometi um crime. Não cometi nenhum crime”.
Travou, assim, o debate interno.
Como não existe vácuo em política, sem a participação petista, Ciro Gomes está nadando de braçada entre os parceiros de sempre do PT. Os governadores do Maranhão, Flávio Dino, prócer do PC do B, e de Pernambuco, Paulo Câmara, cacique do PSB, por exemplo, já acenaram com a possibilidade de apoio à candidatura pelo PDT de Ciro ao Palácio do Planalto.
Pelo que se sabe, entre as cartas do cárcere, nenhuma foi dirigida a Dilma. Aliás, fora uma matéria no site do PT, em meio a muitas outras sobre Lula, a queda de Dilma sequer foi lembrada nas páginas oficiais de seus antigos aliados.
Vida que segue.