Prestes a completar três meses, a intervenção federal no Rio se Janeiro não produziu o efeito desejado pelo Planalto, que era criar na população ao menos uma percepção de maior segurança com a presença do Exército nas ruas. Nem o Exército – talvez acertadamente – foi tanto assim para as ruas, e nem o crime organizado e tráfico se inibiram. Improvisada e sem planejamento, a operação está longe de ser aquela “grande jogada” idealizada pelos marqueteiros do governo.
Temos notícias de tiroteios diários, mortes e balas perdidas, em niveis muito semelhantes aos de antes da intervenção, só que agora com mais visibilidade ainda. Afinal, o estado está sob intervenção federal, ou seja, sob os holofotes da mídia e de todo o Brasil. Cada morte, cada tiroteio, cada bloqueio de rua, e sobretudo as falhas de planejamento e execução, como a demora na liberação dos recursos federais para as forças da intervenção, têm muito mais visibilidade.
Pior ainda, as informações disseminadas pelas autoridades de que estariam muito perto de elucidar as circunstâncias da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Oliveira parecem ter morrido na praia. Todo mundo sabe que o crime tem relação com as milícias, mas aparentemente pouco se avançou na investigação – o que só faz aumentar o desgaste federal.
Agora, soma-se à óbvia falta de resultados o problema político. Sob o cerco das investigações de corrupção que a cada dia trazem à luz mais elementos, e já com a marca de presidente mais impopular da história recente do país, Michel Temer caminha aceleradamente para o esvaziamento total do que lhe resta de poder político.
Além da necessidade de assegurar algum tipo de condição atenuante para os futuros processos aos quais terá que responder a partir de 2019, sem foro privilegiado – e junto com a torcida política do Flamengo – Temer está mais vulnerável a pressões do Legislativo, que a esta altura só pensa em aprovar PECs e leis que garantam anistias, limitem a atuação do Ministério Público e dos juízes e acabem com o foro privilegiado também para eles.
Boa parte disso terá que ser feita por emenda à Constituição, ainda este ano, pelo atual Congresso, até 31 de dezembro, para beneficiá-los de verdade. Mas como, se é proibido emendar a Constituição na vigência de intervenção federal, que só termina justamete nesse dia?
Já ficou claro quem é que vai dançar primeiro, e mais uma vez será o Rio. Ninguém se surpreenderá se, daqui a alguns dias, o próprio Planalto, com a cara mais lavada desse mundo, começar a falar em encerrar a intervenção antes do prazo. Ela virou um tremendo mico.