Frases de Ciro Gomes:
“Temos de aceitar, compreender e respeitar o tempo do PT, para o que quer que seja. Não é simples, não é trivial o momento pelo qual o PT e sua principal liderança estão passando. (…) Vou tocando o meu bonde, propondo ao Brasil uma alternativa”.
Dia 02/05, em em visita à Agrishow, em Ribeirão Preto (SP)
“Nós temos que entender o momento do PT, ele tem o direito de tomar a deliberação que quiser, inclusive lançando candidatura própria, isso não é nenhum problema pra mim. Mas a nossa hora de encontrar é no segundo turno.”
Dia 12/04, falando na Câmara dos Dirigentes Lojistas de Fortaleza, no Ceará
“Parece que a lei severa só vale para um lado no Brasil. A lei severa é muito boa se ela valer para todos. (…) Nenhum dos altíssimos dignitários do PSDB passaram qualquer tipo de constrangimento.”
Dia 09/04, durante participação no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, dois dias após a prisão de Lula.
“Parte importante do meu coração está em São Bernardo do Campo. Compreendo a exuberância da liderança do ex-presidente Lula. É de todos conhecida, ainda que ele também desperte ódio até onde não se suspeita. (…) Mas eu também acredito na prudência do ex-presidente Lula. Espero que não surjam cadáveres, especialmente entre inocentes”.
Dia 07/04, em viagem aos Estados Unidos no dia em que Lula decidiu se entregar à PF.
“Não sou puxadinho do PT e jamais serei. Nos últimos 16 anos, apoiei Lula sem faltar um dia. Eles façam dessa história, o que quiserem fazer.”
Dia 06/04, rebatendo críticas por não ter participado dos atos políticos em apoio ao ex-presidente.
“Sou professor de Direito e li aquela sentença de Sergio Moro, as 218 páginas, mais de uma vez. Não vejo ali a consistente prova que evidencie uma culpa das acusações pesadas de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.”
Dia 23/01, após o juiz Sérgio Moro condenar Lula.
O PT não trabalha com Plano B. Ou trabalha? Ciro Gomes é um possível Plano B. Ou não? O Partido dos Trabalhadores tem emitido, nos últimos dias, sinais desencontrados sobre uma possível alternativa ao ex-presidente Lula, caso ele não possa concorrer à Presidência em outubro. Quem conhece os meandros do PT sugere que, ao contrário de um conflito aberto, podemos estar assistindo factoides para medir os humores da militância e do eleitorado. O choque de opiniões mais recente, se choque existe, aconteceu entre dois dos principais caciques petistas, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hofmann, e o ex-ministro Jaques Wagner, que divergiram publicamente sobre a possibilidade do hoje candidato do PDT ser um possível substituto do ex-presidente na campanha com o apoio do PT.
No mesmo dia, esta quinta, 3, os dois foram visitar Lula em sua prisão na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Teriam conversado separadamente com Lula, mas saíram juntos para uma coletiva, onde levaram recados de Lula sobre a gestão econômica desastrosa na Era Temer. Coincidentemente, foram as duas primeiras visitas individuais de políticos ao ex-presidente desde a prisão no dia 7 de abril. Segundo Gleisi, Ciro Gomes, “não é pauta” do partido nem foi tema da conversa. Ou teria sido esse o assunto assunto?
As perguntas são uma provocação para você, leitor, porque a mim, como jornalista, cabe duvidar, desconfiar e suspeitar. Rompendo um bloqueio do partido, já que falar em plano B agora pareceria jogar a toalha não só para a candidatura Lula, mas para as chances dele ser solto em breve, Jaques havia admitido na terça, 1º, a hipótese de o PT não ser cabeça de chapa nas eleições presidenciais e ocupar a vice, caso Lula fique mesmo impedido. Ele próprio já cotado como possível candidato do PT, se disse à vontade para discutir a hipótese de se aliar a Ciro. Foi mais longe. “Sempre defendi que, após 16 anos, estava na hora de ceder a precedência. Sempre achei isso. Não conheço na democracia ninguém que fica 30 anos.” Ao saber das declarações, Gleisi devolveu: “Mas ele (Jaques) não sabe que o Ciro não passa no PT nem com reza brava?”.
Outros petistas reagiram na linha de Gleisi, como o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta. Ciro, como se sabe, não esteve no palanque derradeiro de Lula antes de ser preso. Estava numa certa Brazil Conference nos EUA. Alguns nunca o perdoarão por isso. Mas Lula pode perdoar.
O fato é que à medida que corre o calendário eleitoral, e também o dos recursos de Lula, aproxima-se a encruzilhada da qual o PT terá que sair. O candidato histórico, duas vezes presidente, que lidera tranquilo as pesquisas eleitorais, está preso. E, em algum momento, a Justiça poderá enquadra-lo na chamada Lei da Ficha Limpa. O Tribunal Superior Eleitoral, responsável por analisar a legalidade das candidaturas, terá que examinar o caso depois do dia 15 de agosto, quando se encerra o período para o registro de candidatos. O prazo de análise pelo TSE poderá se arrastar até 17 de setembro.
O que se faz agora, longe de afobamento ou precipitação, é planejar um possível dia seguinte sem Lula na campanha. Restaria aos partidos progressistas tentar, ainda no primeiro turno, uma inédita unidade estratégica para emplacar uma alternativa a Lula. A candidatura própria, com Jaques ou Fernando Haddad, parece cada vez mais improvável. Se houvesse um slogan nesse momento seria: Ou o PT vai com Lula, ou terá que apoiar outro partido. Guilherme Boulos, candidato do Psol, e Manuela D´Ávila, do PCdoB, colaram em Lula e estiveram com ele até o momento em que se entregou aos Federais. Mas parecem, lendo friamente os números das pesquisas, com escassas chances eleitorais.
Ciro tem, por outro lado, chances reais de chegar ao segundo turno, mas mantém uma relação ‘morde e assopra’ com o PT. Se Ciro e o PT vão se aturar em nome de uma causa maior vai depender muito, de novo, do próprio Lula, que terá que apadrinhar a aliança. Sem ele, não há namoro, muito menos casamento.