Seria cômico, se não fosse trágico, o bate-cabeças e o jogo de empurra das autoridades em torno do incêndio e do desabamento do prédio no largo do Paissandu, nesta madrugada de um ano eleitoral hoje em São Paulo. O atual prefeito, Bruno Covas, correu a dizer que a prefeitura não tinha culpa. O ex, João Dória, fez questão de informar que o prédio havia sido invadido e abrigava integrantes de uma facção criminosa – como se isso justificasse o descaso que colocou em risco as vidas das famílias, crianças e todos que ali estavam.
Pelo jeito, a disputa agora é para mostrar se o edifício desabou para a direita ou para a esquerda. Diretamente responsável pela segurança do prédio ocupado, a prefeitura tem muito a responder, mas o estado e a União, dona do prédio, também. Talvez no tortuoso raciocínio de Dória, dizer que a solução é evitar as invasões – quase sempre promovidas por movimentos de esquerda como o MTST – seja uma maneira de tirar o corpo fora e jogar a responsabilidade para terceiros.
O que melhor ilustra o episódio, porém, é a cena do presidente Michel Temer sendo posto para correr do local sob xingamentos e hostilidades dos desabrigados e de pessoas que estavam ali para ajudá-los. Candidato a candidato de uma candidatura impossível, Temer foi tentar mostrar solidariedade e acabou chamuscado.
O presidente podia ter passado sem essas imagens, que refletem não apenas a sua crônica impopularidade, mas também a insatisfação geral com o desmantelamento dos últimos vestígios dos programas de política habitacional em seu governo.
Na verdade, o prédio do largo do Paissandu desabou na cabeça de todos os políticos.