20 de março de 2018, Santa Maria (RS) – Enquanto Lula participava de ato fechado com a reitoria da UFSM, manifestantes partiram para cima de estudantes presentes. Em Cruz Alta, quatro apoiadoras do ex-presidente foram agredidas. Em Bagé e São Borja, ovos e pedras foram atirados contra ônibus que participavam da caravana, chegando a quebrar vidros. Um carro carregado de artefatos explosivos foi apreendido.
23 de março, Passo Fundo (RS) – Um grupo de ruralistas montou uma emboscada no trevo de acesso a Passo Fundo, queimou pneus e atirou pedras e ovos em carros que passavam. A passagem da caravana de Lula foi cancelada porque a Brigada Militar dizia não garantir a integridade física do ex-presidente e de seus acompanhantes.
24 de março, Chapecó (SC) – O hotel onde Lula estava hospedado foi cercado por aproximadamente cem pessoas, que tentavam bloquear seu acesso ao palco instalado numa praça a 200 metros dali. O ex-presidente deixou o hotel pelos fundos. A senadora Ana Amélia Lemos parabenizou os ruralistas pela violência da véspera. “Botaram a correr aquele povo que foi lá levando um condenado se queixando da democracia. Atirar ovo, levantar o relho, mostra onde estão os gaúchos”.
25 de março, São Miguel do Oeste (SC) – Pedras e ovos foram atirados contra ônibus da caravana de Lula, que estava em um dos carros. O ex-deputado Paulo Frateschi levou uma pedrada na orelha esquerda na tentativa de proteger o ex-presidente. Na praça, manifestantes lançaram ovos e pedras contra seguranças e apoiadores de Lula.
27 de março, Rodovia PR-473 – entre as cidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul (PR) – Tiros foram disparados contra ônibus da caravana do ex-presidente Lula. Os disparos perfuraram a lataria de um dos três ônibus da comitiva petista. Ninguém ficou ferido. Foram usadas armas de fogo calibre 32. Pedras também foram atiradas contra os vidros. O deputado federal Nilson Leitão, líder do PSDB na Câmara, disse que o ataque foi uma “armação” dos próprios petistas.
7 de abril, Curitiba (PR) – Lula se entrega e é transferido em um avião monomotor para Curitiba. Ao chegar na sede da Polícia Federal, com o helicóptero ainda no ar, manifestantes contra o ex-presidente festejaram soltando fogos. Perto dali, bombas de efeito moral e tiros de borracha foram disparados pela PF conta outro grupo, pró-Lula, concentrados em frente ao portão principal.
28 de abril, Curitiba (PR) – Duas pessoas – Jefferson Lima de Menezes, 38, que levou um tiro de raspão no pescoço, e Márcia Koakoski, 42, ferida por estilhaços – ficaram feridas após um ataque a tiros contra o acampamento montado desde a prisão do ex-presidente Lula. No local, foram recolhidas seis cápsulas de pistola 9 mm. O acampamento já havia sido alvo de hostilidades menos graves, como um ataque com barras de ferro contra militantes.
Balas de festim são balas aparentemente normais, a não ser por um detalhe decisivo: elas não possuem projétil, a parte da munição que atinge o alvo. Só servem para fazer barulho – daí serem usadas como efeitos especiais em cenas de ação de filmes. É tudo fantasia. A Polícia Federal, que já deveria ter entrado em cena quando ainda eram pedras atiradas contra os petistas, e a Polícia Civil dos estados do Sul, que não apresenta resultados para atos cada vez mais graves que vêm ocorrendo há mais de um mês, culminando no último fim de semana com duas pessoas feridas no acampamento Lula Livre, se comportam como se estivessem diante de uma tela de cinema. E não de uma grave escalada de violência política, especialmente aquela refletida no ódio a Lula e aos petistas.
O acampamento pró-Lula fica a cerca de um quilômetro da sede da Polícia Federal, onde o ex-presidente está preso desde o último dia 7.
Tendas e barracas foram instaladas em um terreno alugado pela organização. Ainda assim, a PM paranaense parece não conseguir garantir a segurança mínima de um aglomerado pacífico. Já a Procuradoria-Geral da Prefeitura de Curitiba fez pedido à Justiça Federal do Paraná para que o ex-presidente seja transferido da Superintendência da Polícia Federal. Lula, nesse caso, é o elefante na sala de estar. Remova-se o elefante.
Nada aconteceu depois que pedras e ovos foram atirados, há mais de um mês, contra a caravana do PT em São Miguel do Oeste (SC). A janela do ônibus ocupado por Lula foi quebrada. Quando a caravana parou, os limpadores de para-brisas dos ônibus foram arrancados, diversos ovos atirados contra os vidros dos veículos e, depois, as pedras. Assessores chegaram a segurar guarda-chuvas ao redor de Lula para evitar que ele fosse atingido. Já era um atentado político, mas não foi tratado como tal. Aí vieram os tiros na caravana na Rodovia PR-473, entre as cidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul (PR). Depois disso, como mostra a cronologia acima, a coisa só vem piorando.
Investigações foram abertas em cada um desses casos, mas pouco evoluíram. Dúvida? Procure conclusões, linhas de investigação, suspeitos detidos, qualquer coisa. Não se sabe sequer se há uma preocupação em apurar a relação entre os vários atos. Isso porque o Ministério Extraordinário da Segurança não aceita que tratam-se de crimes federais e atentados políticos, mesmo envolvendo a vida de um ex-presidente e de um mesmo grupo político. Em um ano eleitoral. Onde esse líder político, hoje preso, lidera todas as pesquisas de intenção de voto.
Pistas a seguir? Foram encontradas conversas de WhatsApp de grupos fascistas como “Caravana Contra Lula 26/03” e “Foz contra Lula 26/03”, nos quais integrantes afirmam a intenção de atacar os ônibus. Nas conversas, sugere-se que ovos e pedras sejam trocadas por bala de borracha e munição letal.
Também pós o ataque ao acampamento na madrugada de sábado, 28, uma das suas feridas, a advogada Márcia Koakoski, atingida por estilhaços no ombro, contou que um grupo de pessoas vinha fazendo ameaças de morte. Segundo Koakoski, por volta de 2h da madrugada, os acampados ouviram gritos de ameaça e fogos foram usados pelos vigias do local para espantar o grupo de pessoas de fora.
Onde estava a PM? Por volta de 3h45, um homem caminha a pé até o acampamento e dispara, fugindo em seguida. Como se sabe isso? Porque câmeras de segurança divulgados pela polícia registraram. Alguém já foi preso? Não.