Não terá sido mera coincidência o acerto – ou, ao menos, o vazamento – do acordo de colaboração do ex-ministro Antônio Palocci um dia depois da decisão da Segunda Turma do STF de retirar das mãos do juiz Sérgio Moro os trechos dos depoimentos da Odebrecht nas ações sobre o sítio de Atibaia e a suposta compra do terreno para o Instituto Lula. Nada acontece por acaso na Lava Jato. Trata-se de uma reação de Curitiba a um dos piores golpes que já sofreu, sobretudo por parte da mais alta Corte do país.
O curioso é que Palocci está fazendo seu acordo com a Polícia Federal, depois de tentar por mais de um ano se entender com o Ministério Público e a força-tarefa de Moro. Segundo advogados, foi rejeitado inúmeras vezes. Em algumas, provavelmente por não entregar o ex-presidente Lula de forma suficientemente comprometedora. Em outras, por razões mais insondáveis. Comenta-se, por exemplo, que Moro não gostou da audácia de Palocci que, em depoimento televisado no ano passado, falou que poderia fazer revelações sobre sistema financeiro e sobre empresas de comunicação.
O fato é que condenado a 12 anos, Palocci parecia estar perdido. Duvidava-se até se delação combinada com a PF seria aceita pelo MPF e, sobretudo, homologada por Sérgio Moro. Agora, porém, que parte do STF resolveu claramente cortar as asas de Curitiba, a expectativa é de que o ex-ministro seja carregado no colo pela força-tarefa.
E a pergunta que não quer calar hoje em Brasília, São Paulo e alhures é: o que disse Palocci? Do ponto de vista petista, agora que Lula já foi julgado uma vez, e está na cadeia, talvez já não faça tanta diferença. No mundo econômico e financeiro, porém, há personagens de cabelo em pé.