“Acho que vai ocorrer instabilidade em 2018. Agora é o risco da volta atrás. O risco do desmonte da economia, por propostas de candidatos.”
Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e pré-candidato do MDB, em entrevista ao Estadão
Analistas, mães Dináhs e chutadores de plantão – com diferentes habilidades, autonomias e interesses – se animaram, nos últimos dias, amparados em pesquisas ou em elocubrações pessoais, a apontar cenários possíveis para o pleito de outubro no Brasil, particularmente para o quase inevitável segundo turno das eleições presidenciais. Uns acham que, mesmo sem Lula, num cenário que parece cada vez mais inevitável, a esquerda, ou centro-esquerda, estará lá. Representada por Ciro Gomes, por um candidato pessoal de Lula, o “grande eleitor” – Jacques Wagner, Fernando Haddad, Celso Amorim – ou, utopia das utopias, Bouolos ou Manuela. Uns acham que Bolsonaro já é carta fora do baralho, não aguenta o primeiro debate, o primeiro confronto de ideias, o primeiro teste de neurônios. Difícil cravar, como saber qual o tamanho da direita anencéfala no país hoje? Uns acham que Alckmin, o tucano da vez, se beneficiará da fragmentação total desta eleição, mesmo com a absoluta falta de carisma e os rolos com a Odebrecht. Pode ser a hora do Santo. Já a fissura num cristão novo, que passou por Huck, hoje se alimenta de uma possível candidatura Joaquim Barbosa, que de socialista não tem nem cacoete. E há os jabutis da mídia.
Um dos jabutis é Marina Silva, que teria o que os analistas gostam de chamar de recall eleitoral – ou seja, já teve muitos votos em eleições passadas. Mas alguém acredita mesmo que Marina tenha alguma chance agora? Outro jabuti é Rodrigo Maia, o candidato do DEM e dele mesmo, que tem tantas chances de ser eleito quanto o de ser o próximo Rei Momo do Carnaval Carioca. E, bom, tem o Meirelles. O presidente Michel Temer que, como se sabe, adora encontros fora da agenda, passou este domingo, 15. em Brasília em encontros no Palácio do Jaburu. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi o primeiro a se encontrar com o presidente. Teria ficado, segundo foi divulgado meia hora. Difícil imaginar uma conversa produtiva nesse tempo todo. No fim da tarde, Temer recebeu, entre outros, o ex-ministro da Fazenda. Meirelles, que pontua 1% no último Datafolha, e talvez, intimamente, saiba que a faixa presidencial não lhe cai bem, andou dando umas declarações curiosas – e que merecem ser analisadas.
Em entrevista ao Estadão, publicada no domingo, 15, Meirelles, que até onde se sabe tenta viabilizar sua candidatura à Presidência pelo MDB, diz que a eleição de outubro próximo representa risco de instabilidade. E que candidatos como Ciro Gomes e Jair Bolsonaro representam um desmonte da política de reformas do governo. Compreende-se que Meirelles, que como político é um grande economista, tenha apontado suas baterias para aqueles candidatos que pareçam, para sua assessoria, mais ameaçadores de barra-lo de um segundo turno. Mas dizer que a eleição deste ano traz risco de instabilidade do país parece coisa de quem não gosta de urna. Ou não faz questão de chegar ao poder pelo voto. Até onde se sabe, numa democracia, é como se elegem os presidentes. Meirelles começou a montar sua equipe neste fim de semana e prepara a instalação de um gabinete na sede nacional do MDB, em Brasília, de onde passará a despachar. Podia aproveitar o tempo livre, já que como ministro não conseguiu gerar crescimento nem empregos, e estudar um pouco de política.