“É preciso esticar a corda. Mas é preciso saber a hora de soltar”. A frase, dita por um advogado petista dos velhos tempos, resumiu bem o dilema que passou a tomar conta do PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de seus familiares, e dos aliados políticos desde que o relógio bateu em cinco horas da tarde de ontem e ele não se entregou à Justiça. Já haviam se passado quase 24 horas do momento em que Lula se entrincheirara no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, esperando que algum dos recursos impetrados pelos advogados pudesse suspender o pedido de prisão.
Políticos, advogados, apoiadores, amigos, amigos dos amigos, pseudo celebridades, artistas, militantes, o metalúrgico que fora colega de Lula nos tempos do chão de fábrica, e muitos outros entupiam os corredores e as salas do segundo andar do Sindicato. Isolado por gradis que fechavam a passagem de todas as entradas, ainda guardadas por seguranças truculentos, o andar não passaria nem em meia vistoria do Corpo de Bombeiros. Faltava água e fazia muito calor, apesar de o ar condicionado nas salas estar ligado e todas as janelas estreitas estarem abertas.
Escorado em uma das divisórias das salas, o velho petista indaga: “Até quando vamos conseguir manter esse pessoal lá fora? E até quando vamos segurar esse povo calmo. O que tinha de ser feito, já foi. Lula já mostrou o que precisava mostrar. Agora é negociar a melhor maneira de cumprir o mandado de prisão. Porque a não ser que os advogados consigam um habeas, Lula vai ter que se entregar”.
Naquele instante, o advogado Sigmaringa Seixas, o deputado Wadih Damous e o dirigente petista Emídio de Souza estavam na Polícia Federal negociando os termos da rendição do ex-presidente. A corda já tinha sido esticada. Petistas, sindicalistas, representantes de movimentos sociais, simpatizantes cercavam o prédio do Sindicato. E Lula ainda afirmava que só seria preso se a Polícia Federal fosse buscá-lo.
Seixas, Damous e Souza voltaram com a proposta para Lula. Ele não sofreria nenhuma punição judicial e se entregaria hoje, depois do ato religioso em homenagem a Dona Marisa. Chegara a hora de soltar a corda.