Lula vai se entregar hoje, daqui a pouco. Lula será preso. Por ordem do juiz Sérgio Moro. A gravidade do momento histórico não é, evidentemente, sentida por todos. Vivemos tempos de pensamentos rasos. A Nação Zumbi está ligada em suas Smart TVs Full HD querendo ver o final dessa novela. A missa-comício em homenagem a Dona Marisa já começou. Ela faria 68 anos. O ex-presidente gastou parte do dia escolhendo músicas para o ritual.
A questão que se coloca, vendo as imagens geradas pela Mídia Ninja, uma das poucas aceitas dentro do caldeirão vermelho cozinhado nas últimas horas em torno do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – o resto da imprensa cobre de longe, eventualmente de helicóptero, algo que merece um estudo semiológico à parte – é o quão pacífico será esse ato final. Traumático, sem dúvida.
Lula está lá. No alto do carro de som. Há religiosos, paramentados, fazendo sua parte neste incrível ritual montado no alto do carro de som. “O amor vencerá o ódio”, disse um deles. Outro faz uma homilia lembrando o legado de Lula e Dilma. Palavras são ditas, aqui e ali, mas se perdem no turbilhão das emoções. Dilma Rousseff está lá. Celso Amorim. Paulo Pimenta. Lindbergh Farias. Manuela D’Ávila. Boulos. Gleisi Hoffmann. Muitos outros. Os semblantes são tristes.
“Aqui está o povo sem medo, sem medo de lutar”, grita a multidão a todo instante. Um grupo puxa as palavras de ordem “Resistência” e “Lula livre”.
Lula deve falar. Lula pode falar. Ele está de jeans e camisa azul. Parece sereno. É tudo muito estranho.
O problema da prisão de Lula num sindicato cercado por forças incendiadas pela paixão política é saber até que ponto homens e mulheres que passaram a noite em vigília receberão com naturalidade a chegada dos Federais para levar seu líder maior. Ou talvez Lula os poupe e saia de lá de outro jeito.
Enfim, o dia está só começando. Como disse uma vez Paulo Leminski, haja hoje para tanto ontem.