A Operação Skala, que prendeu nesta manhã os melhores amigos do presidente Temer – José Yunes, Wagner Rossi e o coronel Lima – parece ter pegado todo mundo de surpresa. Nessas horas, Brasília entra numa espécie de transe e comecam a circular, junto com informações reais, as ‘fake news’ mais estapafúrdias, sempre atendendo a conveniências de uns e outros. Quem não ouviu, nos últimos dias, rumores sobre absurdas afirmações de politicos ligados ao Planalto de que a eleição deste ano correria risco?
Apesar da surpresa geral com as prisões de hoje, no mínimo alguém no governo ouviu, nos últimos dias, o galo cantar e ficou sabendo que o cerco iria se fechar em torno do presidente no caso dos portos. O que seria até meio óbvio, dadas as últimas providências da PGR e do ministro Luis Roberto Barroso, do STF, que prorrogaram o inquérito e autorizaram a quebra do sigilo bancário do próprio Temer.
Não era preciso ser um gênio da raça para se prever que algo viria – e isso pode até explicar a decisão de Temer de botar sua candidatura presidencial na rua, movimentando o ambiente. Ganha uma desculpa e um discurso de defesa, jogando as acusações no território eleitoral. É provável que essa candidatura não vingue agora, mas pouca diferença vai fazer num quadro geral em que já não tinha nenhuma chance.
A desconfiança de que poderá haver uma terceira denúncia contra Temer não é de hoje, e até já tratamos deste assunto aqui n’Os Divergentes no dia 12 de março (Michel teme terceira denúncia). Agora, esse receio é concreto por parte do Planalto e demais governistas.
Ninguém se surpreenderá se começarem a se multiplicar os rumores e temores sobre instabilidade política, renúncia, adiamento de eleições etc. À esquerda, alguns acordaram hoje falando em ‘golpe do golpe”, alertando para o risco de não haver eleições. E o principal, nesse momento, é tirar do mapa esse tipo de conversa, infundada e imotivada.
Ainda que enfraquecido e desmoralizado, Temer não será preso no exercício da presidência. Se sofrer uma terceira denúncia, esta poderá se arrastar por meses até ser examinada pela Câmara – e, quando isso acontecer, o final de seu mandato estará muito próximo e seu sucessor sendo eleito. A eleição é a solução – por pior que sejam as expectivas em torno de seu resultado.
Não há por que haver prejuízos à institucionalidade, e nem há qualquer razão plausível para um atentado desse tipo à democracia – que andamos tanto, por tanto tempo, e à custa de tantos sacrifícios e vidas, para conquistar.