Tem gente no PT achando até bom que o partido tenha arrumado assunto para briga com os tratores e pneus queimados dos bolsonaristas fechando a estrada no Rio Grande do Sul e os ovos e pedradas contra a caravana de Lula em Santa Catarina. Enquanto o pessoal se distraiu com a reação às hostilidades, fechou a boca em relação ao STF. Nesta segunda, o centro das atenções vai ser o TRF-4, alvo petista desde a condenação do ex-presidente em janeiro. Como todo mudo sabe que vai negar os embargos, a briga é anunciada e não vai chocar.
O que não pode acontecer, segundo alertaram os juristas do partido à sua cúpula, é qualquer tipo de observação que venha a ferir suscetibilidades no Supremo Tribunal Federal, que deu habeas corpus temporário a Lula e retoma o julgamento no dia 4. Até lá, as lideranças petistas estão proibidas de cantar vitória antes do tempo, de cair em provocações ou de ficar dando palpites sobre os votos de uns e outros.
Nos bastidores, aliados de Lula estão muito animados, apesar das declarações cautelosas. Acreditam que, provavelmente por 6 a 5 (ou até 7 x 4), o ex-presidente obterá o HC definitivo. Mas os advogados, liderados por Sepúlveda Pertence, lembram os petistas que o triunfalismo, nessas horas pode ser um grande inimigo, e até virar votos de quem estava quase lá.
E quem está quase lá? Rosa Weber, por exemplo. Apesar de alguns observadores considerarem dúbias suas afirmações no debate da preliminar, a defesa de Lula conta com seu voto. A partir do raciocínio simples de que, se quisesse negar, teria se unido aos que não queriam conhecer o HC e perderam. Os argumentos apresentados pela ministra, e sua atuação decidida e firme, estão sendo elogiados entre os advogados do PT – só nos bastidores, é claro.
A grande dúvida dos petistas ainda é Alexandre Moraes, que tem posição favorável à tese da prisão em segunda instância e, no julgamento, deu uma no cravo e outra na ferradura: conheceu o HC contra o relator, mas negou a liminarzinha provisória de Lula. Agora, pode fazer qualquer coisa. Há chances de negar, mas se ouvir o Planalto de seu amigo Michel Temer, votará com Lula. Ele pode ser o voto número 7, ou até 6, se Gilmar Mendes não chegar de Portugal a tempo.
Por incrível que pareça, há elogios de caciques petistas até para a presidente Cármen Lúcia, que tem feito o que pode e o que não pode para evitar uma mudança na orientação sobre a segunda instância. Nas palavras de um político próximo de Lula, ela votou com o outro lado, mas conduziu a sessão de forma correta, foi comedida e incisiva apenas na hora de apaziguar os ânimos dos colegas. Se fizer o mesmo dia 4, dizem, já está ótimo para eles.
É bem possível que, no dia 5 de abril, se Lula tiver ganho em definitivo o HC no STF na véspera, tenha festa no PT. Até lá, porém, a ordem é: muita calma nessa hora. Estão pisando em ovos…