Coincidência ou não, poucas horas após o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, dizer a um grupo de jornalistas, em jantar promovido pelo site Poder360, que a intervenção no Rio poderá se tornar “a Lava Jato da segurança”, as coisas se juntaram no estado. A terça-feira amanheceu com nova operação, tendo como alvo um esquema de fraudes no sistema penitenciário do Rio e levando presos o ex-secretário de Administração Penintenciária dos governos Cabral e Pezão, coronel Cesar Rubens Monteiro de Carvalho.
Também foi preso na operação o delegado Marcelo Martins, diretor-geral de Policia Especializada. Por enquanto, o objeto da operação, batizada de “Pão Nosso”, é a investigação de um esquema de superfaturamento e fraude no fornecimento de pão para as cadeias estaduais. Mas observadores do cenário prevêem que novas investigações de corrupção envolvendo as polícias e autoridades no Rio serão deflagradas nos próximos dias pela Lava Jato, agora sob a proteção do Exército.
Raul Jungmann jamais admitirá ter tido conhecimento antecipado dessa operação, mas é óbvio que sim. O ministro e os interventores sabem que, com todas as dificuldades, o combate à corrupção das polícias é parte importante da intervenção na segurança pública, que dificilmente será bem sucedida sem o saneamento das forças de segurança do estado.
Por outro lado, essas vistosas operações da Lava Jato nos esquemas de segurança no Rio ajudam a passar ao público a percepção de que a intervenção federal no Rio terá sido uma decisão acertada do governo. Do ponto de vista de imagem, é mais fácil passar essa ideia com prisões e punições de policias e autoridades corruptas do que com o sonhado estado de segurança da população após a intervenção, que pode demorar bastante a se instalar – ou até não chegar nunca.
Quando Jungmann fez sua frase de efeito, talvez tenha querido dizer que a intervenção no Rio tem uma importância tal que representará o que a Lava Jato representou para o combate à corrupção no país. Mas também poderia muito bem estar se referindo ao processo que começa esta manhã e deverá ter seguimento nos próximos dias e meses, com consequências imprevisíveis para personagens diversos da cena política do Rio. Intervenção e Lava Jato, somadas, devem fazer ainda muitas vítimas.