Vamos acordar! Nenhum partido ou candidato precisa, para se lançar a qualquer cargo, da certeza de vitória. Ele só precisa disposição para concorrer ou uma história para contar ou defender. Qualquer analista que não leve isto em conta estará falhando no seu ofício. Sobretudo num país onde os partidos e os líderes que defendem as mesmas ideias preferem (historicamente) percorrer a trilha em veículos separados. Desde o fim da ditadura militar, a opção de nossos principais líderes políticos foi a da fragmentação e a utilização da “lamela média” (ou coligação), que tem a função de fazer a ligação entre as células próximas.
O que um partido que tem um nome com 1% das intenções de voto para presidente perde ao lança-lo candidato? Nada. A maioria dos deputados federais e senadores se elegem em função da política regional, dos candidatos a governador. As eleições estaduais são descoladas da eleição presidencial. O PSDB e o PT, mesmo quando na presidência, nunca fizeram a maioria dos governadores. O eleitor não vincula o seu voto. Nem nos casos de carisma de um de seus líderes. O desempenho eleitoral do PT nas eleições para o Congresso, desde que Lula assumiu o poder, direta ou indiretamente (Dilma), está aí para nos mostrar isso.
Vamos adiante. Um candidato de um partido que fizer 2%, 5% ou 10% nas eleições presidenciais, não precisa de ninguém. Agora, quem vencer, ou for para o segundo turno, precisa de todo mundo. Tem que reunir ao seu lado o máximo de forças que puder. O primeiro turno das eleições é a fase da agitação e da propaganda. O segundo turno é a primeira fase da partilha do poder. A formação do governo pelo eleito é a segunda (e decisiva) fase da partilha do poder. A governabilidade não se monta no primeiro turno. Ela é arquitetada no segundo turno e erguida depois de escolhido o presidente.
Você duvida? Todas as previsões são de que nenhum partido terá mais de 60 deputados, nem os maiores. Isso significa que todo presidente eleito vai ter que baixar suas calças para, e colocar fraldas, naqueles que forem derrotados e se dispuserem a mamar nos seus leitosos peitos. A amamentação não é coisa NOSSA, do Brasil. Essa é uma prática de todos os países, inclusive os europeus, onde predomina a fragmentação. Só o que nos diferencia é o tamanho da mamada, a fome e a disposição do amamentado e a fragilidade e cumplicidade de quem amamenta.
Nesse contexto, especulações e análises de viabilidade eleitoral são todas muito relativas. Ninguém perde nada mesmo derrotado nas partidas amistosas. O que vale mesmo é a final do campeonato, o segundo turno. É nesta fase que será preciso ter um bom banco de reservas, uma animada e influente torcida na arquibancada, os direitos de transmissão na mídia eletrônica , a simpatia dos comentaristas e a complacência de juízes e bandeirinhas. O jogo está apenas começando.