A Lava Jato pôs Lula nas cordas. Ele falou tanta besteira na entrevista a Mônica Bergamo que até o falastrão Ciro Gomes tirou sarro. A troca de farpas, em que ambos parecem ter razão, foi o que sobrou de mal costuradas teorias da conspiração, algumas bem ridículas.
Lula criticou Ciro por estar falando demais. Qual a novidade? Por falar pelos cotovelos, Ciro virou cavalo paraguaio nos páreos presidenciais. Larga bem, queima a língua, e se perde pelo caminho.
Ciro sentiu a estocada e reagiu com um diagnóstico certeiro: Lula parece alheio ao que está acontecendo no país, o que ele diz deve ser recebido com paciência por não ser nada fácil, para um político com sua história, estar prestes a ir para a cadeia.
Paciência, Ciro? Quem esperava ouvir isso da boca de um dos pavios mais curtos da história recente do país? “Tenho coração antes de ser da luta”, justificou na entrevista a José Luiz Datena. Quem quiser que compre essa suposta piedade por seu valor de face.
O que se ouve aqui e ali é que Lula, excluído das eleições, em algum momento pode apoiar Ciro, por puro pragmatismo. Se Ciro, com sua língua solta, não queimar as pontes antes, pode até acontecer.
O difícil será alinhar os egos. Belos versos de Caetano Veloso, outro ego exaltado, que oscila entre Ciro e Lula, descrevem bem a peleja. São de Sampa, um dos grandes clássicos da música brasileira. “Quando eu te encarei frente a frente e não vi o meu rosto/ chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto/ é que Narciso acha feio o que não é espelho”.
É aguardar o desfecho para ver aonde vai dar.