A pergunta que não quer calar hoje é sobre como funcionará (ou não) um governo em que o presidente da República e o ministro da Fazenda são candidatos ao mesmo cargo nas eleições. Michel Temer negou protocolarmente, em entrevista, que vá disputar a reeleição, e ontem chegou a mandar desautorizar afirmações do marqueteiro Elsinho Mouco de que sim, ele é candidato – e que a intervenção no Rio foi uma jogada de mestre. Henrique Meirelles diz, também em entrevistas, que ainda não é, mas que poderá ser a partir de abril – e mudou o tom.
Os dois já estão se molhando na chuva que cai sobre a cabeça de quem vira candidato cedo demais. Temer ganhou muita pancadaria nas redes e na mídia por ter supostamente usado a intervenção federal no Rio para alavancar a possível candidatura. Mas o pior de tudo foi a reação em casa.
Além do mau humor de Rodrigo Maia e Eunício Oliveira, usando como pretexto a nova velha pauta do governo, foi preocupante para o Planalto a reação do ministro da Fazenda. Meirelles abandonou o comedimento habitual para dizer que seu “histórico” lhe dá condições de ser candidato, e que “a etapa como ministro da Fazenda é uma etapa cumprida”. Ao perceber que fora longe demais nesta última afirmação, dando a ideia de que poderá deixar a pasta – e desestabilizar a economia – corrigiu-se e disse que fica até o fim do governo se não for candidato.
Mas Meirelles, obviamente, ficou muito aborrecido com a perspectiva de levar uma carona do chefe na corrida ao Planalto – até porque, com poucas chances de obter legenda para concorrer por seu partido, o PSD, pensava em se filiar para sair candidato pelo MDB de Temer. Agora, tudo ficou mais difícil. Mesmo assim, o ministro peitou o presidente e disse que a hipótese de ele disputar a reeleição não seria impedimento à sua própria candidatura: “Não invalidaria; seria uma competição”.
Não chega a ser uma guerra de titãs. Todo mundo sabe que as chances de um e de outro, girando hoje em torno de 1% nas pesquisas, são igualmente remotas. E que pode não haver candidatura nem do presidente e nem do ministro.
Mas o estrago foi feito, e recai em cima do governo. Dá para governar assim? Para a Fitch, parece que não. Coincidência ou não, o rebaixamento da nota do Brasil foi anunciado nesta sexta em que Michel Temer e Henrique Meirelles deixaram claro que estão às turras…