“O Renan não tinha saída. Está com seis facas no pescoço. Se atrasasse a votação, iam dizer que fez isso por estar arrolado na Lava Jato”
Foi assim que a presidente Dilma Rousseff reagiu ontem, no final da tarde, ao saber que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidira ignorar a decisão do presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), de suspender a votação do processo de impeachment.
Mas não foi propriamente por causa das denúncias da Lava Jato que Renan Calheiros resolveu bater de frente com Waldir Maranhão e tocar adiante o processo. Seu gesto foi voltado para o vice-presidente da República, Michel Temer, que deve assumir a Presidência ainda nesta semana.
Temer passou o dia de ontem articulando com líderes da Câmara e do Senado contra a decisão de Maranhão. Partiu dele a ordem para a oposição não judicializar o caso com um mandado no Supremo Tribunal Federal (STF), e para pressionar Renan a ignorar a decisão do presidente da Câmara.
Renan já disputou com Temer o controle do PMDB, já se chocou com o vice-presidente na eleição do líder do partido na Câmara, já trocaram xingamentos públicos… Agora aproveitou o interesse de Temer no processo de impeachment para fazer um gesto concreto de reaproximação.
E Temer, por sua vez, aproveitou a encrenca para testar como será o relacionamento dos dois.
Afinal, Renan tem ainda o ano inteiro pela frente como presidente do Senado. Precisará ter uma boa relação com o futuro presidente da República. E Michel Temer também vai precisar do apoio do presidente do Senado para governar.
Os dois são hoje, talvez, as maiores raposas da política em Brasília. Aproveitaram a trapalhada de Waldir Maranhão para transformar o limão da crise na limonada da reaproximação.