Polaroid foi uma câmera instantânea que marcou época. Nesse mundo em que tudo é online, ninguém sequer se lembra dessa maquininha em que se revelava o que se fotografava em tempo quase real.
Apesar da má qualidade, rejeição de quem era do ramo, ela chegou a parecer revolucionária. Até que foi aposentada de vez pelo avanço tecnológico.
Isso acontece todo o dia com tudo o que até então parecia sólido. Sobrevive apenas o que não é substituível ou ainda não tem substituto confiável.
É o caso das pesquisas eleitorais.
Elas nasceram em bom berço. As sondagens por amostras em critérios estatísticos ganharam ares científicos. Viraram o xodó dos múltiplos e milionários negócios que crescem ou desaparecem de acordo com seu “ibope”.
No mundo inteiro, essa tal “fotografia de momento” cada vez erra mais, até no flash final. Por exemplo, no Brexit no Reino Unido e na vitória de Donald Trump. Por aqui, os erros nas pesquisas de boca de urna, em todas as eleições recentes, são ainda mais grosseiros.
Se a aferição do voto do eleitor falha até depois de ele ter votado, como avaliar a foto imprecisa 9 meses antes de ele digitar sua opção na urna eletrônica?
A arte de adivinhar o futuro é um eterno fascínio.
A pesquisa Datafolha, que aqui rendeu uma excelente análise de Helena Chagas, tem alimentado debates e agitado excitados corações e mentes nesse começo de temporada eleitoral.
Esse frenesi embaça o olhar sobre evidências que, em algum momento, serão mais nítidas e terão impacto na campanha eleitoral. Pelo calendário, logo ali; no ritmo de crise generalizada, uma eternidade.
Pela ótica de hoje, a maior das evidências a serem decifradas: candidato ou não, preso ou livre, qual é o Lula que o eleitor vai avaliar em outubro?
Talvez nem ele saiba.
Em outros momentos, Lula surfou na própria incoerência. Pegou carona em Raul Seixas e se definiu como metamorfose ambulante. Deu tão certo que até hoje usa e abusa do mesmo expediente.
É nessa balada que ele tenta se explicar a quem tem dificuldade de entender ou se recusa a rever a admiração antes conquistada — fruto de sonhos ou ilusões.
Há também uma legião de devotos que nem sequer quer explicações.
O problema para Lula não é quem o ama ou odeia, mas quem, aos poucos, vai refletir sobre os motivos pelos quais ele está sendo condenado.
É aí que a porca torce o rabo.
Em outra tática recorrente, a de se mostrar como vítima, Lula havia conseguido transformar a condenação pelo juiz Sérgio Moro por nocaute em uma derrota por pontos.
Tudo isso ruiu em Porto Alegre.
Ali, em votos impecáveis, três desembargadores elevaram o patamar da Justiça no país. Foram além da confirmação da condenação histórica de Lula, por corrupção e lavagem de dinheiro, pelo Sérgio Moro.
Votos e sentença murcharam a estratégia do deboche adotada pela defesa de Lula.
Os três juízes em Porto Alegre conseguiram um feito ainda maior. Por mais que Lula e entourage ainda esperneiem, também para eles caiu a ficha de que a lei pode valer para todos.
O retorno de Lula ao mundo dos puníveis põe o universo político na mesma encruzilhada: atropelar a Justiça, com uma anistia geral e irrestrita a corruptos de todos os quadrantes, ou passar por uma ampla depuração em que grandes caciques de todos os naipes se tornam inelegíveis e podem ir para a cadeia.
A conferir.