Silvio Santos é um mestre em bajular quem está no Planalto. Faz isso desde o regime militar, quando chegou a criar a “Semana do Presidente” para o general Figueiredo, aliás, responsável pela concessão do seu SBT. A adulação explícita teve lugar no domingo, 28, com a “visita” do presidente Michel Temer, que anda escolhendo programas populares, coisa que não é, para vender seu governo. Temer fez o seu papel, foi lá, com o cabelo engomado e o terninho que parece um gesso, defender sua Reforma da Previdência. Sem ela, sabe que terá pouco a oferecer de legado para a história, fora a crise institucional que patrocinou, junto com Eduardo Cunha e a ala carcerária do PMDB – mas isso é outra história. Mas, claro, não é só isso. Temer, que acalenta a ideia de uma possível candidatura à “reeleição”, sonha em se tornar mais palatável ao espectador-eleitor. E que lugar melhor do que em um auditório onde as palmas são garantidas?
Público cativo de Silvio Santos, o cidadão que compra seu Baú da Felicidade e pena para pagar o INSS, aplaudiu, como claque ordeira, o camelô Temer vender a ideia de que a reforma é para o bem de todos, que vai acabar com os privilégios – nada se falou sobre a manutenção de castas previdenciárias, como juízes e militares-, e que, caso uma mudança não seja feita agora, o benefício terá de ser reduzido, ponto fortemente reforçado por SS. Mais aplausos para a ameaça presidencial. Não se sabe quantos congressistas engordaram a audiência, mas a linha direta com o eleitorado, como marketing, faz todo o sentido com o fracasso, até agora, das negociações nada republicanas em Brasília. O vício é tanto que Temer se despediu de SS dando-lhe uma nota de 50 reais, no melhor estilo topa tudo por dinheiro. Que marqueteiro teve essa grande ideia?
Foram 18 minutos de um show encenado e roteirizado, onde o anfitrião falou muito melhor do que o convidado. Um dos poucos improvisos ocorreu logo na introdução, quando Silvio Santos comparou a polêmica da previdência com a ocorrida no confisco do governo Collor, na gestão da ministra Zélia Cardoso. Foi uma das derrapadas da noite. Outra ocorreu quando o debate enveredou para a possibilidade do ser humano viver até os 120 anos. Como descreveu com precisão o analista Josias de Souza, a presença de Temer num programa de auditório “vale por uma confissão de impotência política”. Melhor imagem disso foi o presidente pedindo à platéia, exclusivamente feminina, que pressionasse seus deputados – como se isso fosse uma tradição brasileira. Ficou risível.
Silvio Santos já tentou sua própria candidatura presidencial, em 1989, numa campanha curta e sem chances de êxito pelo nanico PMB (Partido Municipalista Brasileiro), cujo registro acabou sendo cassado, enterrando o sonho do Homem do Baú de desbancar o Caçador de Marajás e o Sapo Barbudo. Não foi para o trono, mas se especializou em adular quem estava lá, pelo menos até o governo Fernando Henrique. Perto de se aposentar, aos 87 anos, segundo dizem, SS, como Temer, não tem sucessor certo. A única certeza é que, assim como Temer, quando ele sair de cena, nada será mais como antes.