Do ponto de vista prático, sobretudo eleitoral, interessa à maioria das forças políticas e a seus candidatos presidenciais que o ex-presidente Lula seja condenado pelo TRF-4 e acabe fora da cédula, certo? À primeira vista, sim. A saída do petista de cena – embora dificilmente isso vá ocorrer de imediato – beneficiaria aqueles que podem herdar seus votos no primeiro turno (Marina e Ciro, por exemplo) e os que poderiam enfrentá-lo no segundo, como Geraldo Alckmiin, Jair Bolsonaro ou o nome de centro que ainda não apareceu.
Presume-se, então, que a esta altura todos os adversários e possíveis adversários de Lula estejam fazendo torcida organizada pela confirmação de sua condenação na quarta-feira. Só que não. Virou moda agora, entre políticos do establishment, dizer que prefere ver Lula perder a eleição a vê-lo perder o mandato na Justiça. Todo mundo diz isso: Fernando Henrique, Michel Temer, Rodrigo Maia, Ciro Gomes e, agora, até Henrique Meirelles.
Conversa da boca pra fora? Muito provável. Mas parece também que a enormidade da decisão que caberá a três desembargadores de Porto Alegre, que podem acabar derrubando a candidatura presidencial do líder nas pesquisas, está assustando muita gente. Com poucas exceções, os políticos andam pisando em ovos em suas afirmações sobre o julgamento de Lula.
Alguns, num raciocínio simples: hoje é ele, amanhã sou eu. Ninguém acredita que, expurgado Lula da cédula presidencial por causa do triplex do Guarujá, as coisas vão continuar assim tão tranquilas para outros acusados da Lava Jato. Mais do que o clamor popular que o PT espera ver a favor de Lula, a reação das ruas poderá ser a cobrança por igual rigor em relação a outros políticos, de modo geral citados entre cifras mais altas e provas mais contundentes.
Não por acaso, em entrevista à Folha de S.Paulo no último sábado, Michel Temer – saco de pancadas da oposição petista – disse preferir ver o ex-presidente perder nas urnas a perder a candidatura na Justiça. Não preferiria, fossem outras as circunstâncias.
Afirmação semelhante à de Fernando Henrique Cardoso, que disse preferir que o PSDB bata Lula nas urnas, e não na Justiça. Sabe o ex-presidente que, depois do TRF-4, serão grandes as cobranças de que o pau que deu em Chico dê também nos Franciscos do ninho do PSDB. Talvez por isso, grão tucanos como Alckmin, Serra e Aécio venham falando pouco, ou nada, sobre o julgamento de Lula.
Jair Bolsonaro, hoje principal adversário de Lula nas pesquisas, é um dos poucos que bate nele e torce publicamente pela condenação. Da boca para fora, pois quem mais pode perder com a saída de Lula do páreo é ele, que cresceu e se fez como “antiLula”. Vai ser anti de quem?
À esquerda, temos a solidariedade explícita do PCdoB, do Psol e,agora, até de Ciro Gomes (PDT), que ontem escreveu nas redes sociais que não há razões para a condenação de Lula. É óbvio que, mais do que querer manter o ex-presidente na corrida, esses partidos estão de oilho num possível espólio de votos e apoios. Sem contar que, se Lula sobreviver, e com grande chance de vitória, vão acabar se aglutinando em torno de sua candidatura.