José Serra ciscou daqui e dali e, por prudência, desistiu de testar o humor do eleitorado este ano. Saiu do páreo pelo Palácio Bandeirantes. Ele é um caso peculiar entre senadores envolvidos na Lava Jato. Diferente da grande maioria de seus colegas enrolados, Serra ainda tem mandato até 2022.
Outra exceção é Fernando Collor, também enrascado na Lava Jato.Franco atirador de sempre, ele anunciou nessa sexta-feira (19), em entrevista a uma rádio de Arapiraca, que é de novo candidato ao Palácio do Planalto. Parece piada. Mas, com mais quatro anos de mandato no Senado, ele nada tem a perder se levar a aventura adiante.
Nesses tempos em que investigações do Ministério Público e da Polícia Federal escancararam a corrupção generalizada de cardeais, médio e baixo cleros de todos os naipes, o maior valor dos mandatos virou o tal foro privilegiado.
Daí o desespero de estrelas no Senado com a hipótese de perderem eleições e seus casos passarem à jurisdição de Sérgio Moro, em Curitiba.
Aécio Neves avalia riscos. A favor de tentar a reeleição ao Senado apenas o fato de o governador petista Fernando Pimentel – hoje seu principal adversário — também estar envolvido em escândalos de corrupção.
Aécio sabe, no entanto, que suas conversas gravadas com Joesley Batista e os vídeos das malas de dinheiro recebidas pelo primo Fred serão intensamente explorados na campanha eleitoral. O problema é que eles são indefensáveis.
A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, é pragmática. Vai tentar manter o foro privilegiado concorrendo à Câmara dos Deputados. Outros colegas de Senado planejam seguir o mesmo caminho.
Há os que aguardam o resultado do julgamento de Lula e seus desdobramentos. O petista Lindbergh Farias é um deles. Se Lula poderá ou não ser candidato é uma decisão que reflete nas mais variadas eleições.
Uma banda do PMDB no Senado – Renan Calheiros, Edison Lobão, Eunício Oliveira, Eduardo Braga, Jader Barbalho, entre outros – querem estar na foto com Lula.
Renan, por exemplo, chegou a cogitar uma candidatura a deputado federal. Desistiu porque era ilegal. Teria que mudar a legislação que hoje o impede a concorrer a qualquer outro cargo porque o governador Renan Filho é candidato à reeleição.
Os trunfos de Renan são o apoio de Lula, o fato de seus principais concorrentes também serem alvos de investigações sobre corrupção, e o comando da máquina pública em Alagoas.
Sem os mesmos empecilhos legais, o senador Jader Barbalho pode disputar uma vaga de deputado federal enquanto seu filho Helder Barbalho entra no páreo pelo governo do Pará. Helder é ministro de Michel Temer. Antes foi ministro de Dilma Rousseff, indicado pelo pai, com o aval do próprio Temer. Em abril, Helder deixa o governo e volta a se aliar à turma de Lula em seu estado.
Como sempre, os políticos buscam o poder a qualquer preço. Dessa vez, lutam também pela própria liberdade, entendem o foro privilegiado como uma espécie de alvará de soltura para crimes de corrupção.
Confiam em juízes como Gilmar Mendes.
Até agora, com raríssimas exceções, o Supremo Tribunal Federal tem lhes dado razão.
A conferir.